(Ainda há dias dei conta neste espaço dos ecos e impressões de um fim de
semana em Portalegre, manifestando o meu fascínio pela atmosfera de declínio
que se respira visualizando algum edificado da Cidade. O aparecimento à venda no OLX do velho Teatro de
Portalegre completa esse registo de visitante acidental.)
O jornalista Carlos Dias publicou no Público
(link aqui) um sugestivo artigo sobre mais uma surpresa do OLX em matéria de património em
venda naquele popular sítio da WEB. Não, não se trata de nenhuma obra de arte ou
documento de grande valor histórico, mas antes da colocação à venda naquele espaço
do velho Teatro de Portalegre, junto do qual passei há poucos dias. Pelo artigo
do jornalista e pela pesquisa que ele realizou percebe-se que o velho Teatro de
Portalegre nunca deixou de ser património privado desde a sua construção nos
tempos em que era de bom-tom político povoar o interior com teatros construídos
à imagem e semelhança das grandes casas da capital.
Quando há mais de oito dias passei aleatoriamente
pela Cidade e me confrontei com o estado de abandono do velho Teatro em
confronto com a moderna sala do Centro de Artes e Espetáculos assumida pela Câmara
Municipal, com a preservação e valorização da casa de José Régio e com o Museu
da Tapeçaria, também municipal, compreendi intuitivamente que a compra e
renovação do Teatro pela autarquia tinha sido descartada. O artigo do Público
confirmaria a minha intuição. E tenho de reafirmar que achei a opção compreensível
e lógica, sobretudo num contexto em que a CM de Portalegre não é propriamente
uma mosca morta em matéria de animação cultural na cidade e no concelho. Tal
como a Manufatura em que os tapetes de Portalegre ainda podem ser concebidos e
produzidos (não sei se por muito tempo e claramente em função do potencial económico
da família de Guy Fino sua proprietária), o Teatro de Portalegre pertence ao
mundo e ao tempo das famílias com poder económico que investiam na cultura em
função do seu ADN e posses materiais. Diz-me o artigo de Carlos Dias que o
Teatro já foi espaço de localização da IURD (cruzes credo é melhor outra ocupação)
e do Grupo Desportivo Portalegrense. É verdade que os espíritos de Régio (e do
Alfageme de Santarém, a sua primeira peça estreada aqui) e Amélia Rey Colaço ainda
pairarão pelo velho edifício e que seria interessante algum passo de mágica
para modernizar a velha instalação. Mas há escolhas e o município de Portalegre
está diante de tantas, incluindo as de assegurar sustentação e manutenção ao
que já consegui colocar ao serviço de residentes e visitantes, que compreendo
bem que o município não possa ser o autor desse passo de mágica.
O declínio e a impossibilidade de preservação
fazem parte dos processos históricos de desenvolvimento local e urbano, tal
como a finitude faz parte da nossa vida. Muito desse declínio tem sido contrariado
e transformado em memória histórica para nossa compreensão do passado, essencialmente
com recursos públicos. Mas as escolhas públicas são diversas e abundantes.
Quanto ao Teatro de Portalegre provavelmente vai
engrossar o rol de património perdido pelo declínio do poder económico de
algumas famílias outrora comprometidas com a cultura. Mas se esse for o caso,
prefiro uma demolição que deixe memória, e essa ser pode ser tratada sem grande
necessidade de recursos públicos em abundância, a utilizações contranatura,
como por exemplo a de uma igreja evangélica qualquer ou de outra atividade que
conspurque o espírito que paira sobre aquele edificado.
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