(A Guilhermina Suggia estava ontem ao início da noite
cheia de famílias com miúdos e miúdas de tenra idade para ver a menina prodígio
russa, recomendada por Grigory Sokolov, Alexandra Dovgan. Não sei se terá sido um bom ato pedagógico de pais ou famílias. Explicarei
porquê.)
Estava com tremenda curiosidade de assistir ao concerto
inaugural do Ciclo de Piano de 2020 na Casa da Música. Anunciava-se a menina
prodígio Alexandra Dovgan, recomendada por Sokolov um amigo e habitué da Casa da
Música. Acho que nunca tinha presenciado um concerto com um génio precoce do piano
e por isso estava curioso por perceber até que ponto o elogio de Sokolov e a
força da Escola russa de ensino do piano.
Quero-vos dizer que é de ficar petrificado, perante tal
hino à concentração e maturidade em palco, de tal maneira ímpares que, por
vezes ao longo da atuação da Alexandra, me interroguei se a jovem era humana
com os seus 12 anos. Por isso também me interroguei se aqueles pais e famílias
que levaram ontem as crianças ao concerto atuaram bem ou se, pelo contrário, deram
aos seus filhos uma imagem de inacessibilidade com resultados imprevisíveis nos
seus processos de aprendizagem à portuguesa.
Arrancar o concerto com a Sonata nº 8 em Dó menor, op 13
de Beethoven, mais conhecida pela Patética, não é para qualquer um e dizem-me
amigos que sabem mais disto do que eu que tocar Beethoven exige mãos que frequentemente
não estão ao alcance de mãozinhas de crianças. O programa da primeira parte
continuou com maior lirismo numa Fantasia-Improviso, Duas Valsas e quatro Mazurkas
de Chopin, a partir do qual se começou a perceber que não era apenas
virtuosidade o que Alexandra nos tinha para dar mas também uma sensibilidade
que abstraindo de olhar para o piano poderia admitir-se que estaríamos ouvir todos
menos uma criança de 12 anos apenas.
A segunda parte, toda ela em torno de Rachmaninoff, levou
ao extremo essa combinação de virtuosidade técnica e de lirismo e dei comigo a
pensar os duros sacrifícios que Alexandra deverá ter passado para atingir esta
craveira. Dei também comigo a querer estudar a futura curva de aprendizagem
desta miúda, pois partir aos 12 anos desta espantosa maturidade levanta todas
as questões deste mundo como irá evoluir esta jovem para a perfeição.
Vejam-na aos 8 anos a tocar Chopin (link aqui).
Que outros meninos (as) prodígio estará a Escola russa a
formar?
Sem comentários:
Enviar um comentário