segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

ALEXANDRA DOVGAN



(A Guilhermina Suggia estava ontem ao início da noite cheia de famílias com miúdos e miúdas de tenra idade para ver a menina prodígio russa, recomendada por Grigory Sokolov, Alexandra Dovgan. Não sei se terá sido um bom ato pedagógico de pais ou famílias. Explicarei porquê.)

Estava com tremenda curiosidade de assistir ao concerto inaugural do Ciclo de Piano de 2020 na Casa da Música. Anunciava-se a menina prodígio Alexandra Dovgan, recomendada por Sokolov um amigo e habitué da Casa da Música. Acho que nunca tinha presenciado um concerto com um génio precoce do piano e por isso estava curioso por perceber até que ponto o elogio de Sokolov e a força da Escola russa de ensino do piano.

Quero-vos dizer que é de ficar petrificado, perante tal hino à concentração e maturidade em palco, de tal maneira ímpares que, por vezes ao longo da atuação da Alexandra, me interroguei se a jovem era humana com os seus 12 anos. Por isso também me interroguei se aqueles pais e famílias que levaram ontem as crianças ao concerto atuaram bem ou se, pelo contrário, deram aos seus filhos uma imagem de inacessibilidade com resultados imprevisíveis nos seus processos de aprendizagem à portuguesa.

Arrancar o concerto com a Sonata nº 8 em Dó menor, op 13 de Beethoven, mais conhecida pela Patética, não é para qualquer um e dizem-me amigos que sabem mais disto do que eu que tocar Beethoven exige mãos que frequentemente não estão ao alcance de mãozinhas de crianças. O programa da primeira parte continuou com maior lirismo numa Fantasia-Improviso, Duas Valsas e quatro Mazurkas de Chopin, a partir do qual se começou a perceber que não era apenas virtuosidade o que Alexandra nos tinha para dar mas também uma sensibilidade que abstraindo de olhar para o piano poderia admitir-se que estaríamos ouvir todos menos uma criança de 12 anos apenas.

A segunda parte, toda ela em torno de Rachmaninoff, levou ao extremo essa combinação de virtuosidade técnica e de lirismo e dei comigo a pensar os duros sacrifícios que Alexandra deverá ter passado para atingir esta craveira. Dei também comigo a querer estudar a futura curva de aprendizagem desta miúda, pois partir aos 12 anos desta espantosa maturidade levanta todas as questões deste mundo como irá evoluir esta jovem para a perfeição.

Vejam-na aos 8 anos a tocar Chopin (link aqui).

Que outros meninos (as) prodígio estará a Escola russa a formar?

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