Na última quinzena, dispararam em praça pública as referências comprometedoras a Isabel dos Santos, a filha mais rica e mais empreendedora do ex-presidente angolano José Eduardo. Tudo a pretexto de uma investida do governo de João Lourenço em relação às origens dos ativos da empresária, com arresto decretado em Luanda dos seus bens. Uns falam de “caça às bruxas”, outros de “acerto de contas”, outros ainda de “justiça” a funcionar. Pessoalmente, apreciei a entrevista concedida ao “Público” sobre a matéria por Ricardo Soares de Oliveira (RSO), professor de Ciência Política em Oxford e coeditor da “African Affairs”, designadamente no que se reconduz à evidência de um consabido, prolongado e largamente ignorado processo de “extração de recursos de Angola”, assim como às de Lisboa como “praça-chave” desse processo e de um “comportamento bajulador” das elites portuguesas – tudo, aliás, denúncias por cá recorrentes em alguns meios e por parte de alguns comentadores insuspeitos (de José Pacheco Pereira a Ana Gomes).
Olhando em frente, o dito RSO sublinha, paralelamente, que Luanda terá de demonstrar “que há um verdadeiro compromisso para com a luta contra a corrupção, incluindo quando existem custos políticos e não apenas ganhos” (um desafio dirigido à liderança de João Lourenço, ele que também tem um passado, vários convertidos no seu círculo de apoiantes e muitos elementos internacionalmente monitorizados sobre os beneficiários concretos do processo em questão) e que a Portugal apenas “resta contribuir ativamente para este processo e disponibilizar toda a informação existente sobre bens ilícitos de pessoas politicamente expostas (...) e em relação a todas as pessoas sobre as quais existe essa informação e não apenas àquelas que os governos estrangeiros queiram almejar”. Um assunto que vai, seguramente, ficar na ordem do dia por longo tempo, tanto mais que a crise económica que se vive em Angola forçará a tentação de ser concedida uma acrescida atenção a tudo quanto possa ser capital político proveniente do anterior regime. A grande interrogação permanece, contudo, no grau de fumaça em que tudo isto vai acabar...
(Fernão Campos, http://ositiodosdesenhos.blogspot.pt)
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