sábado, 11 de janeiro de 2020

MEGXIT, SERÁ?


Quem, como eu, gastou algumas horas em volta das três temporadas da série “Crown”, disponíveis no “Netflix”, o anúncio de Harry e Meghan poderá facilmente levar a que se caia na tentação de reconduzir a dita situação à ocorrida, em 1936, com o tio de Isabel II – o rei Eduardo VIII – a abdicar do trono “por amor” a uma americana (Wallis Simpson) duplamente divorciada. Muitos analistas fizeram, aliás, uma tal aproximação. Só que muito distingue os dois momentos, principalmente porque ali se percebe que Eduardo (depois feito Duque de Windsor) não era bem quem se pintava, sendo a sua paixão mais uma questão de dependência e falta de caráter do que algo do foro da propriamente dita, e porque a decisão de Harry e Meghan surge diferenciadamente apresentada com uma aparente ingenuidade e sinceridade, talvez até assentes numa retidão de vontades. Daí que a subliminarmente crítica reação dos media locais (acima) e a espirituosa jocosidade do cartunista (abaixo) tendam a não ter adesão à realidade profunda, uma realidade que, induzida ou não pela “má influência” de Meghan, poderá mesmo ter lados meritórios (a recusa de uma lógica monárquica que está manifestamente fora de tempo e a legítima ambição de uma vida tão normal quanto possível) que só são encarados negativamente por razões associadas à inércia (e, por vezes, irracional idolatria) dos britânicos em relação à Coroa. Um fait-divers que não deixa de conter em si vários ensinamentos a ter em conta.

(Matt Pritchett, http://www.telegraph.co.uk)

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