(Sofi Jeannin)
(Rocio Márquez)
(Fim
de tarde e noite na Casa da Música para um programa diferente da Suggia à sala
2, revisitando o magnífico Coro da Casa da Música e a música coral francesa e
mergulhando no novo trabalho do prodígio de autenticidade Rocio Márquez. Tempo ganho e a Casa no seu melhor)
Para além da comemoração do ano Beethoven, o programa
deste ano da Casa da Música traz-nos um programa Vive la France, importante
para a minha formação de amador de ouvido, pois a música francesa não está
profusamente representada na minha discoteca.
A consulta da agenda anual tinha-me despertado curiosidade
pelo facto da Casa acolher a maestrina sueca Sofi Jeannin (atualmente a dirigir
o agrupamento dos BBC Singers) a dirigir um concerto de música coral francesa,
projetando o Coro da Casa da Música para mais uma evidência da sua excelência.
Alternando peças litúrgicas (de que a Missa em Sol Maior para coro misto
de Francis Poulenc foi para mim uma verdadeira revolução) com peças de autores
mais conhecidos como Debussy ou Ravel, o programa estreou em Portugal uma obra
de 2002-2003 de Philippe Manoury (Fragments d’Héraclite para coro de câmara)
com a presença do autor.
A peça de Manoury é um espanto de singela criatividade,
pois coro e maestrina arrancam da plateia em direção ao palco enquanto
sussurram o prólogo (É preciso não agir como filhos dos antepassados, ou
seja, em plena unanimidade, seguindo a tradição), regressando a essas
posições no epílogo (É necessário que nos recordemos dos que esquecem a que
é que o caminho conduz.)
Já não revia o Coro da Casa já há algum tempo e a sua
excelência alinha bem com a da evolução noutro plano da orquestra. A Suggia
iluminou-se com aquelas vozes e percebeu-se a comunhão entre o grupo e a
maestrina.
À noite, foi tempo de regressar a um tema que me tem
despertado também uma forte curiosidade. Já perceberam que tudo que envolva
mudança a partir de referenciais de tradição é para mim matéria de interesse,
que já vem dos meus tempos de iniciação pela economia e sociologia do
desenvolvimento. Os contornos e limites dessa mudança constituem uma matéria
central e também incontornável do desenvolvimento e aplicado à criação cultural
é um mar sem fim de reflexões.
Nos últimos tempos, tenho seguido a emergência meteórica
da cantora Rosalia em Espanha e sobretudo os debates que a sua projeção (com
muito marketing e produção de imagem à mistura, sobretudo nos espetáculos) tem
suscitado em torno do flamengo, das suas variantes e da sua adulteração para
uns, revolução para outros. Tinha por isso interesse em ouvir Rocio Márquez que
corresponde a um outro padrão de reinvenção do flamengo, mais intimista, cuja
maturidade está perto de ser alcançada com o seu último disco Visto en el
Jueves (link aqui na Radio 3 de Espanha, a partir da Casa Patas em Madrid )
que não é um dia de semana mas um mercadito local com toda a sua ambiência.
Natural de Huelva, Rocio Márquez trabalha o cante
flamenco com uma força que perturba, numa conjugação perfeita com o exímio
guitarrista (António Suárez) Canito e percussionista. Certamente que não
escapará também aos que continuam a considerar o flamenco intocável, como se o
flamenco não fosse o resultado de um conjunto imenso de influências.
E só para ouvir de novo “Andaluces de Jaén, aceituneiros
altivos” valia a pena ter estado na sala 2.
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