segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

BLOCO PARA QUÊ?


Começo a ter a exata sensação de quão duro – e altamente difícil de absorver – foi o “golpe” que António Costa desferiu ao Bloco de Esquerda depois das eleições legislativas de outubro. De facto, o atual posicionamento de Catarina Martins e dos seus camaradas mais visíveis evidencia de modo bem expressivo quanto assim foi e é, sobretudo na medida em que os ditos dão sinais claros da sua perfeita consciência de terem passado de uma anterior centralidade – a da “geringonça” e a do peso direto e significativo das suas pressões sobre o governo anterior – a uma mal disfarçada irrelevância na presente conjuntura. Há realmente uma diferença entre o que foi esse exercício irrepetível da “geringonça” (e o papel do Bloco nesse quadro, que permitiu até a alguns bloquistas a ilusão de uma chegada à governação) e o que é um Bloco a tentar dar provas de vida negociando migalhas maioritariamente implícitas no ideário e no cardápio governativos (da eliminação das taxas moderadoras em cuidados de saúde primários à continuação da redução das propinas ou a uma atualização extraordinária das pensões mais baixas, além da possível baixa do IVA na eletricidade dos menores escalões de consumo e de outros tópicos do género). Uma reflexão que nos reconduz à questão essencial do construtivismo e do reformismo enquanto instrumentos de uma esquerda que vem de outras lógicas e que se diz defensora de uma alternativa ao sistema.

Sem comentários:

Enviar um comentário