A ainda em curso obra de renovação do belo edifício da
FEP, de autoria do Arquiteto Viana de Lima, e a época de exames em que a Escola
se encontra, impediram que pudesse reconstituir, em pleno, deambulações do meu
quotidiano de outros tempos por aqueles espaços. Mas foi bom rever amigos,
cavaquear e regressar a temas com os quais na altura em que abandonei as
funções docentes mantinha uma relação de forte empatia e trabalho intenso. O
tema economia-inovação-território foi depois prolongado enquanto avaliador de políticas
públicas que me foi permitindo acompanhar relativamente de perto a evolução da
investigação nesta matéria. Mas uma das limitações da consultoria, mesmo quando
exercida na função nobre (com exigência de maior reconhecimento dessa nobreza e
valor social para a melhoria da decisão pública) da avaliação de políticas
públicas é não permitir, por razões de economia de projetos e muitas vezes
ausências de massas críticas de pensamento, desenvolver o debate científico e a
interação com outras disciplinas e abordagens. Embora não me possa queixar dado
o interesse e diversidade de trabalhos que me vão passando pelas mãos, esta
dimensão da ausência de debate é das que mais suscita constantes revisitações
do passado académico.
O Luís e a Pilar organizaram com muita
sensibilidade a sessão de hoje. Pediram-me a mim uma abordagem mais inspirada
na economia da inovação, com incorporação de elementos evolucionistas e
institucionalistas, discorrendo sobre a difícil maturação do conceito de
Sistema Regional de Inovação em Portugal como suporte das políticas públicas de
inovação e como é que nessa evolução se situam as estratégias regionais de
especialização inteligente. À Teresa Sá Marques pediram uma reflexão do ponto
de vista da geografia relacional e da geografia dos lugares, a partir da qual é
possível perceber a enorme importância dos exercícios de “networking analysis”,
com adaptação ao sistema científico, ao sistema de inovação e a algumas
tipologias de organizações como os hospitais e de setores económicos como a têxtil.
Ao José Madureira Pinto, que continua a espantar-nos com o seu rigor de análise,
pediram uma reflexão sociológica que ele organizou admiravelmente em torno de
três dimensões analíticas, o espaço-lugar, o espaço-território e o
espaço-representação, que ele cruzou com dois níveis de análise que designou de
intensidade 1 e de intensidade 2. Com o nível de intensidade 2, a análise do
Madureira Pinto transporta-nos para a dimensão das relações sociais de produção
e, fiel à sua “ortogonalidade” e aos seus incomparáveis quadros analíticos e
foi bom regressar ao reconhecimento do rigor e atenção do trabalho de terreno,
revisitando a sua Fonte de Arcada no vale do Sousa e a outras incursões pelo
setor da construção civil. Finalmente, ao Professor Hughes Jannerat da
universidade de Neuchatel (que já não consegui ouvir) solicitaram uma reflexão
mais económica sobre a relevância dos processos de criação de valor na inovação
regional.
Uma sessão muito rica, mostrando que a
fertilização cruzada e o diálogo aberto entre disciplinas deveriam ocupar uma
percentagem bem mais significativa do nosso tempo passado em seminários e
outros eventos de interação de ideias.
Pela minha parte, deixo-vos a estrutura da minha
intervenção:
- Economia-inovação-território: era uma vez
- A lenta e titubeante emergência da abordagem “Sistemas Regionais de Inovação” (SRI) em Portugal: razões, irritantes e tendências pesadas
- Contextualização e significado da chegada (exógena) da abordagem RIS 3 às políticas de inovação (já em movimento
- Aprendizagens decorrentes da implementação no atual período de programação
- Os grandes temas em aberto à luz da economia do desenvolvimento e da inovação.
Sem comentários:
Enviar um comentário