quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

REGRESSO À FEP


(O evento da Escola de Inverno inserido no 3º Encontro da Associação Portuguesa de Economia Política, cujo programa se distribui pelo dia de amanhã na Universidade Católica -Porto, projetou-me num regresso à FEP, ao auditório das pós-graduações ainda de boa memória. A Pilar González e o Luís Carvalho, protagonizando eles próprios duas gerações diferentes com as quais mantenho alguma proximidade organizaram uma bem interessante sessão sobre a relação economia-inovação-território. Um dia bem passado.)

A ainda em curso obra de renovação do belo edifício da FEP, de autoria do Arquiteto Viana de Lima, e a época de exames em que a Escola se encontra, impediram que pudesse reconstituir, em pleno, deambulações do meu quotidiano de outros tempos por aqueles espaços. Mas foi bom rever amigos, cavaquear e regressar a temas com os quais na altura em que abandonei as funções docentes mantinha uma relação de forte empatia e trabalho intenso. O tema economia-inovação-território foi depois prolongado enquanto avaliador de políticas públicas que me foi permitindo acompanhar relativamente de perto a evolução da investigação nesta matéria. Mas uma das limitações da consultoria, mesmo quando exercida na função nobre (com exigência de maior reconhecimento dessa nobreza e valor social para a melhoria da decisão pública) da avaliação de políticas públicas é não permitir, por razões de economia de projetos e muitas vezes ausências de massas críticas de pensamento, desenvolver o debate científico e a interação com outras disciplinas e abordagens. Embora não me possa queixar dado o interesse e diversidade de trabalhos que me vão passando pelas mãos, esta dimensão da ausência de debate é das que mais suscita constantes revisitações do passado académico.

O Luís e a Pilar organizaram com muita sensibilidade a sessão de hoje. Pediram-me a mim uma abordagem mais inspirada na economia da inovação, com incorporação de elementos evolucionistas e institucionalistas, discorrendo sobre a difícil maturação do conceito de Sistema Regional de Inovação em Portugal como suporte das políticas públicas de inovação e como é que nessa evolução se situam as estratégias regionais de especialização inteligente. À Teresa Sá Marques pediram uma reflexão do ponto de vista da geografia relacional e da geografia dos lugares, a partir da qual é possível perceber a enorme importância dos exercícios de “networking analysis”, com adaptação ao sistema científico, ao sistema de inovação e a algumas tipologias de organizações como os hospitais e de setores económicos como a têxtil. Ao José Madureira Pinto, que continua a espantar-nos com o seu rigor de análise, pediram uma reflexão sociológica que ele organizou admiravelmente em torno de três dimensões analíticas, o espaço-lugar, o espaço-território e o espaço-representação, que ele cruzou com dois níveis de análise que designou de intensidade 1 e de intensidade 2. Com o nível de intensidade 2, a análise do Madureira Pinto transporta-nos para a dimensão das relações sociais de produção e, fiel à sua “ortogonalidade” e aos seus incomparáveis quadros analíticos e foi bom regressar ao reconhecimento do rigor e atenção do trabalho de terreno, revisitando a sua Fonte de Arcada no vale do Sousa e a outras incursões pelo setor da construção civil. Finalmente, ao Professor Hughes Jannerat da universidade de Neuchatel (que já não consegui ouvir) solicitaram uma reflexão mais económica sobre a relevância dos processos de criação de valor na inovação regional.

Uma sessão muito rica, mostrando que a fertilização cruzada e o diálogo aberto entre disciplinas deveriam ocupar uma percentagem bem mais significativa do nosso tempo passado em seminários e outros eventos de interação de ideias.

Pela minha parte, deixo-vos a estrutura da minha intervenção:

  •  Economia-inovação-território: era uma vez
  • A lenta e titubeante emergência da abordagem “Sistemas Regionais de Inovação” (SRI) em Portugal: razões, irritantes e tendências pesadas
  • Contextualização e significado da chegada (exógena) da abordagem RIS 3 às políticas de inovação (já em movimento
  • Aprendizagens decorrentes da implementação no atual período de programação
  • Os grandes temas em aberto à luz da economia do desenvolvimento e da inovação.

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