(Pouco
tempo por questões de trabalho para acompanhar a situação política interna, do
congresso de um CDS em apuros aos estragos que a ação de um hacker, Rui Pinto,
vai em meu entender provocar, sobretudo à justiça portuguesa, enredada na velha
questão dos dois pesos, duas medidas e entre os fogos do não recomendável
futebol e o possível abalo sistémico do sistema bancário e financeiro, tão
competentes que eles são. Mesmo assim, tempo para
o essencial desta vaga de espuma.)
A inefável Cristas, deusa passada das danças da chuva e
mui devota, deixou a direita CDS em transe e em aflição, órfã não se sabe bem
de quê e anunciava facas afiadas para o congresso. Vários artistas se
perfilaram para o embate, quase todos conhecidos apenas dos seus círculos de amigos
mais restritos, mas quase todos de verbo fácil, empolgado e muitos deles tendo por
certo integrado as equipas de jovens assessores que acompanhavam a ex-ministra
Cristas que então se destacavam por não estarem calados e quietos nessas
sessões.
Nos ambientes que marcaram a preparação para o congresso
e a contagem de espingardas que regra geral acompanham estes eventos
partidários pressentia-se o esqueleto mental de Manuel Monteiro a pairar por
algumas cenas, menos o de Paulo Portas hoje mais interessado em seguir e
beneficiar do rumo que ele próprio deu à chamada diplomacia económica do que
inspirar confrontos internos. A imagem do Ventura do Chega também pairava por
ali, por mais que a malta disfarçasse. Foi curioso ver o alinhamento de algumas
das grandes personalidades do partido, integrando os que se limitaram a influenciar
de fora o ambiente e os que tiveram a coragem de ir a terreiro em sítio
próprio, sujeitando-se a alguns desamores da turba mais jovem (Pires de Lima
como grande evidência).
Estive atento ao posicionamento de Bagão Félix e de
António Lobo Xavier, que apoiaram Francisco Rodrigues dos Santos, e intuí por
essa via que estava encontrado o vencedor e não me enganei. Esta gente sabe
muito, sobretudo o segundo, e aquele sinal pareceu-me premonitório.
Mas há que ter em conta algo que a perspicácia política de
um amigo meu me ajudou a relativizar. O CDS é aquele partido em que a gente
jovem sempre parece que é pelo menos 10 anos mais velho (que bela e inspiradora
imagem) e, por isso, ao contrário do que poderia esperar-se logo pressenti que
a mudança com lastro de juventude não equivaleria ao refrescamento necessário.
E assim foi Francisco Rodrigues dos Santos, Chicão para
os amigos lá ganhou confirmando a minha intuição, com discurso empolgado e,
embora ausente do Parlamento por não ser deputado, antecipo alguns diálogos de
espelhos mais com o Ventura do que com a Iniciativa Liberal e o populismo lá
vai engrossando as hostes a candidatos.
Os analistas lá foram detetando as inflexões mais
reacionárias do que conservadoras do seu discurso e outros talvez mal-intencionados
sublinharam também que mulheres praticamente nem vê-las entre as caras chamadas
ao palco.
Alguém nas redes sociais e desculpem lá esta cedência
dizia com piada que, sim senhora, poucas mulheres mas a verdade é que para o
Chicão alguém tem que ficar em casa a cuidar dos Manuéis Maria, dos Afonsos
Maria e de outros Maria.
A segunda reflexão vem ainda na sequência do estrilho dos
Luanda Leaks e da agora assumida posição pelos advogados de Rui Pinto de que
ele é o denunciante que tornou possível o acesso ao material explosivo por
parte do Consórcio Internacional de Jornalistas. Imagino que o presidente do
meu clube esteja por estes momentos aflitinho da vida antecipando coisas ruins acerca
do tratamento equitativo dos vários tipos de leaks agilizados pelo hacker
do Norte. Estou a marimbar-me sinceramente para essa matéria e uns saneamentos
virtuosos fariam bem ao futebol, doa a quem doer.
O que me preocupa neste caso é uma outra matéria, essa de
bem maior alcance.
A questão dos leaks viabilizados por denunciantes,
infiltrados ou qualquer outro estatuto, quando acompanhados de pirataria
informática, é uma estranha metáfora do estado em que a ganância (greed)
e outras derivas do capitalismo que se têm agravado colocaram a democracia mais
ou menos liberal. É que chegar à conclusão que as tramóias e outras fraudes e espoliações
do dinheiro público só são identificadas e perseguidas pela justiça e por
reguladores que queiram regular com a ajuda e interpelados por processos ilícitos
e criminosos preocupa qualquer um de espírito aberto. É claro que ainda existem
algumas pingas honoráveis de jornalismo de investigação, mas ele próprio colhe
alguns resultados quando combinado com tais processos.
Não me digam que isto não é preocupante e um sinal inquietante
dos tempos que vivemos.
E por mais estranho que isso pareça, acho que a Ana Gomes
vai continuar a ter carradas de razão.
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