(Parlament)
(Nas
minhas análises do problema catalão sempre dei atenção ao potencial de
concertação que a expressão cultural e socioeconómica do Catalanismo não
independentista representa. O seu desaparecimento de
cena e perda quase total de intervenção política complicou o já de si complexo
problema. Poderá reerguer-se?)
A história da Catalunha e dos seus intermitentes
sobressaltos seja com o reino de Castela (já desde os tempos de Isabel, a
Católica), seja com a Espanha franquista, seja ainda com Madrid e outras
regiões da Espanha democrática (não esquecendo o período da República
posteriormente arrasada pelas forças falangistas) é, como tenho sublinhado
neste blogue, uma matéria movediça, com uma evidente conflitualidade
interpretativa. Sei também que o ganho de forças do independentismo catalão
acabou também por ter alguma tradução numa espécie de revisionismo da história
da Catalunha, com interpretações de eventos que estão longe de estar totalmente
validados pela comunidade científica.
Não ignorando esse material que, como seria de esperar,
não é do apreço do independentismo catalão que busca todo o tipo de narrativas
para justificar o passo mais largo do que as pernas que acabou por dar, a
existência de uma realidade cultural e socioeconómica a que chamaremos
catalanismo é irrecusável. Nesse reconhecimento, teremos de ter em conta o
revisionismo de sinal oposto que ao abrigo de um “espanholismo” muitas vezes
serôdio e passadista se recusa ele também a aceitar a individualidade cultural
catalã.
O problema é que, por razões diversas, o catalanismo não
independentista viu afundar-se o seu protagonismo político, particularmente
depois da queda do “pujolismo” que as evidências mostraram ser bem menos
bondoso e honesto do que esperámos. Dizem alguns “mentideros” da vida catalão
que, quando a Convergencia i Union se constituiu e no meio da burguesia catalã
emergiu Jordi Pujol como a personalidade que haveria de conduzir o processo
político dessa perspetiva, terá havido um pacto secreto entre os que
continuariam a dedicar-se aos negócios e os que assumiam o compromisso político
da liderança do catalanismo e da Generalitat. Esse pacto não teria sido
inocente e a família Pujol estaria “autorizada” a compensar sabe-se lá por que
meios a sua ausência forçada dos negócios. Esta narrativa é em parte confirmada
pela sequência de atos de corrupção em que diferentes membros da família Pujol
se viram mergulhados. Com a desagregação política da CiU e a desgraçada chegada
ao poder regional de Artur Más, onde todas as derivas independentistas começaram,
abriu-se um largo vazio político que o radicalismo independentista ocupou,
preenchendo o vazio. Não sei se exatamente apenas por esse motivo, essa desagregação
da CiU coincidiu com a saída de cena do catalanismo. O Partido Socialista
Catalão (PSC) rapidamente deu mostras que não tinha unhas para tal
empreendimento e o início promissor do CIUDADANOS rapidamente resvalou também
para que o catalanismo fosse pelo cano abaixo.
Porquê então regressar ao tema, a uma espécie de
quixotismo catalão, embora perceba que Cervantes não seja lá muito querido nestas
paragens?
Tudo isto porque fui hoje alertado por uma notícia do El
Mundo (link aqui) que faz referência a um movimento de intelectuais catalães decididos a
protagonizar uma tentativa de superação do conflito aberto entre a Catalunha e a
restante Espanha, regressando ao protagonismo do catalanismo não
independentista. O grupo integra intelectuais, empresários, professores,
executivos, economistas e juristas, apontando a uma formação que tem de assumir
alguma expressão eleitoral em torno do que poderíamos designar “centralidade
catalanista”.
Tudo dependerá da dimensão da ferida fraturante que se
instalou. O catalanismo não independentista sempre existiu e tem experimentado
nos últimos tempos uma sensação de não representação. No manifesto afirma-se
que “a Catalunha tem de estar presente na construção da política espanhola com
um peso específico grande, por vezes determinante, em lin.ha com a sua
realidade histórica, o seu potencial económico, o seu tecido cultural e a sua
vontade de ser”. Bonitas palavras. Mas será necessário que o eleitorado
reconheça que essa é a via de representação do catalanismo independentista, forçando
o radicalismo catalão a novas tréguas, sabe-se lá até quando.
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