terça-feira, 14 de janeiro de 2020

PRODUÇÃO FUTURA



(A Associação Portuguesa de Desenvolvimento Regional, APDR, de que sou fundador, convidou-me amavelmente para participar numa publicação comemorativa dos 30 anos da associação, que pretende “reunir textos representativos de várias tendências da ciência regional – apresentando uma revisão do estado da arte e seus desafios no contexto do desenvolvimento regional”. Apresento-vos de seguida o resumo em torno do qual estou a preparar o meu contributo)

POLÍTICAS DE INOVAÇÃO E COESÃO TERRITORIAL: O EQUILÍBRIO IMPOSSÍVEL OU NECESSÁRIO DA POLÍTICA REGIONAL DE NOVA GERAÇÃO

Em princípio, a política regional deveria estar para a ciência regional tal como a política económica está para a macroeconomia. Este artigo não pretende focar-se na evolução dessa entidade conhecida por política regional em termos de alcance e de bateria de instrumentos mobilizados. O foco do artigo incide antes no rumo mais recente que essa evolução assumiu a partir do momento em que os temas da competitividade começaram senão a dominar pelo menos a assumir um mais forte protagonismo na conceção e formatação de planos, programas e projetos implementados à luz desse quadro orientador de políticas.

Uma reflexão desta natureza não está necessariamente limitada ao âmbito da política regional europeia ou comunitária. A ciência e a política regionais transcendem esse universo dos agora designados de Fundos Europeus Estruturais e de Investimento (FEEI) e uma autolimitação a esse âmbito é penalizador da riqueza e liberdade da reflexão. Mas num compêndio a publicar em Portugal não pode ignorar esse comportamento dependente da política regional (ESIF addiction), que pode entender-se não só como uma limitação de meios (versão mais benigna), mas também como algo de mais penalizador que consiste na subserviência às malhas de regulamentos e quadros institucionais induzidos pela programação europeia. Nos termos que são caros à política europeia, “a política regional da UE é uma política de investimento. Apoia a criação de emprego, a competitividade, o crescimento económico, uma melhor qualidade de vida e o desenvolvimento sustentável”.

A literatura recorda-nos que a combinação dos temas da competitividade e do desenvolvimento territorial está longe de ser pacífica, pois o debate sobre os conceitos de competitividade territorial e empresarial foi aberto e praticamente não chegou a ser fechado, talvez por conveniência das partes. Indo além desse debate, o foco que move o presente artigo é o de discutir a emergência das políticas de inovação como um vetor estruturante das últimas gerações de política regional em que o protagonismo da competitividade começou a ser marcante.

Não deixa de ser curioso que o protagonismo das políticas de inovação enquanto instrumentos de política regional nos traz de novo ao debate sobre as relações entre dinâmicas territoriais e empresariais. A razão é simples. A inovação é um fenómeno indeterminado, cujos rumos concretos não podemos teleguiar, embora possamos estudar os seus determinantes a partir essencialmente dos seus resultados e da geografia das condições em que ela ocorre. Por vários caminhos, economistas, geógrafos e tecnólogos chegaram à conclusão de que os determinantes territoriais da inovação não podem ser ignorados.

Situando-se neste novo contexto de evolução da política regional, com protagonismo progressivo das políticas de inovação, o artigo discute de que modo a questão da coesão territorial (não ignorando o défice de conceptualização que as políticas comunitárias ainda enfrentam nesta matéria) é impactada por este novo rumo da política regional.

Do ponto de vista das evidências e quadros empíricos que o artigo trabalho eles respeitam ao vastíssimo material que a implementação das Estratégias Nacional e Regionais de Especialização Inteligente suscitam, particularmente a riqueza dos materiais de monitorização e avaliação disponíveis sobre tal implementação.

Do ponto de vista dos referenciais teóricos e de literatura, o artigo trabalha a mais moderna literatura sobre os determinantes territoriais da inovação, inserindo-os no quadro mais vasto das teorias da inovação, com especial relevo para o contraponto entre dois universos de externalidades ou spillovers associados aos fatores territoriais das inovação, os chamados “Arrow-Romer spillover effects” (em homenagem a dois grandes economistas Kenneth Arrow e Paul Romer) e os também chamados “Jacobs spillover effects” (em homenagem à inesquecível Jane Jacobs).

O artigo tenta mostrar de que modo a associação inovação-rendimentos crescentes atravessa a relação entre inovação e coesão territorial e daí o tema “equilíbrio impossível ou necessário”, constituindo-se no grande interrogante dos rumos mais modernos da política regional.

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