Fim de semana muito frio em Bruxelas, aproveitado para matar saudades de alguns locais, do incontornável mercado do Sablon à longa volta pela Rue Haute (entre antiquários e lojas improváveis), da agradavelmente incaraterística Rue des Tongres aos restaurantes que faziam as delícias da minha filha mais nova (o Carpe Diem em Etterbeek e o Perroquet das “pitas” de todos os sabores imaginários).
Tempo ainda para um excelente momento cultural, no Musée des Beaux-Arts (junto à Place Royale), onde são confrontados numa exposição magnífica dois ícones do surrealismo (Salvador Dalí e René Magritte). Dos laços pessoais às diferenças de personalidade, das proximidades filosóficas às influências estéticas, das presenças femininas às expressões criativas, tudo por ali perpassa num permanente e fascinante diálogo. No essencial, provocações deliciosas, desafios incontáveis, certezas abaladas, perspetivas escancaradas – como resulta claro da amostra abaixo, entre o “casal com as cabeças cheias de nuvens” de Dalí e “o beijo” (assim descrito pelo próprio: “é uma paisagem totalmente despida de interesse”, que “ocupa toda a superfície do quadro, somente que ao centro há uma abertura na paisagem e o céu deixa ver uma profundidade maior do que a da paisagem que a cerca”) ou “a chave para os campos” de Magritte.
Saliente-se que o catálogo chama ainda a atenção para aquele “decisivo” mês de agosto de 1929 em que Magritte e Georgette visitam Dalí na sua casa de Cadaqués (Girona), onde também encontram Éluard e Gala (esta vindo a acabar numa relação com Dalí), assim como Miró e Buñuel. Inimaginável o que terá sido a intensidade daqueles dias!
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