quarta-feira, 12 de agosto de 2020

A GOVERNAÇÃO MULTINÍVEL E A PANDEMIA DÃO-SE MAL!

 

(Já o suspeitava e ainda ontem falei do caso trágico da Bélgica, em que a governação multinível coabita com um governo improvisado. Mas há mais evidência de que a pandemia não pode vogar à mercê das questões não resolvidas entre administração central e organização subnacional do Estado qualquer que ela seja. Não imaginam o que custa escrever isto a alguém que é um incondicional e fervoroso defensor da descentralização como matriz intrínseca do desenvolvimento).

Há momentos em que o aprofundamento da organização territorial do Estado, qualquer que seja o estado da arte da mesma, deve ter a flexibilidade e a inteligência necessárias para dar um passo atrás ou pelo menos quedar-se quieta no seu canto para não comprometer avanços mais sólidos no futuro. Um caso evidente desta incapacidade de estar quieto é a teimosia do PS em avançar com a nova legislação sobre as CCDR relativamente á eleição das suas Presidências. Parece um passo em frente mas não é. Equivalerá por certo a muitos passos atrás, senão mesmo à destruição definitiva das ilusões da regionalização.

Mas há outros momentos em que é necessário essa flexibilidade e inteligência. O caso mais evidente é o da pandemia que nos tocou combater e suportar. E não falo pelo caso português, pois aí houve apenas alguns poucos casos de candidatos a caudillos de ocasião, buscando o protagonismo das câmaras, sempre solícitas a acolher os emplastros (não o verdadeiro que esse não incomoda ninguém) deste país.

Falei ontem do caso trágico da Bélgica, mas não é o único. O caso desastroso mais evidente é talvez o espanhol, uma espécie de casa em que não há rei nem roque (o emérito pôs-se a andar em busca de um regaço acolhedor onde possa depositar a sua generosidade de fundos). A tensão política em Espanha, fortemente alimentada pelos nacionalismos regionalistas que encontram nas debilidades do PSOE de Sánchez e na (des) coligação que está no poder um campo fértil para a guerrilha da pequena reivindicação, trouxe-nos uma visão deplorável do que pode ser a governação multinível quando capturada pelos interesses mais mesquinhos. Brincou-se demais com as vidas das pessoas e o meu amigo Ernesto Pombo tem uma descrição lapidar na VOZ de GALICIA e por aqui me fico, nesta manhã de chuva (já não é apenas nevoeiro):

Os especialistas inclinam-se por uma atuação coordenada e unitárias das diferentes administrações espanholas e a adoção de medidas mais restritivas. Um ação harmonizada e seguindo padrões consensualizados.

Pela incapacidade e desordem dos responsáveis autonómicos e o estado contemplativo do Governo central, nada se perfila na frente disposto a atuar, com os erros aceitáveis e razoáveis para combater com rigor juma pandemia que ameaça acabar com o nosso futuro. Aqui, falar de alianças é uma quimera. Depois do que vivemos, um acordo é uma fantasia inalcançável.

O desconcerto, a incapacidade e a confrontação estão a deixar as nossas vidas ao sabor do azar e do que o destino venha a ditar. Cada manhã aguardamos e concluímos que não sabemos muito bem quem ponha fim a este pesadelo que vivemos. Assim, o melhor é entregar a nossa sorte ao Capitão Trueno[1] que nos protegerá com mais acerto”.  



[1] O Capitán Trueno (lit. "Captain Thunder") é um herói da banda desenhada espanhola , criada em 1956 pelo escritor Víctor Mora e ilustrada principalmente by Miguel Ambrosio Zaragoza (Ambrós), inspirada na figura do saudoso Príncipe Valente de Hal Foster

 

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