(Por razões compreensíveis, não vou revelar que tipo de
conversas ou de assuntos suscitaram esta minha reflexão, mas a decisão de o tratar
neste blogue é porque ele caracteriza bem uma grande parte das transições
etárias em muitas das organizações deste país. A transição etária é uma questão séria e relevante, pois suscita questões de
inclusão ou de exclusão e porque o modo como as diferentes organizações e
instituições se adaptam à melhoria gradual das qualificações é um assunto chave
dos nossos tempos, sobretudo em países como em Portugal que partem de um baixo
nível médio de qualificações.
O declínio demográfico que assola a generalidade dos países europeus tem
efeitos cuja transversalidade está longe de ser conhecida e principalmente
focada como problema exigindo soluções mais integradas do que as que têm sido
acionadas. E não conhecemos ainda que consequências as indeterminações e
incertezas estruturais suscitadas pelo surto pandémico irão provocar no
comportamento futuro da fertilidade, já que tragicamente os efeitos sobre a
mortalidade esses são bem conhecidos.
Uma das consequências menos conhecidas dessa transversalidade diz respeito
à transição organizacional que a substituição ou coexistência evolutiva de
gerações mais novas e mais velhas representa e ao modo como as diferentes instituições
e entidades (públicas e privadas) tratam essa questão do ponto de vista das
soluções ensaiadas.
Na política, a terminologia usada é frequentemente a dos senadores,
conhecemos bem algumas dessas manifestações e até no panorama do comentário
político nas televisões nacionais elas são visíveis. Não é a transição observada
nas organizações políticas que hoje me interessa analisar, mas antes a que se
regista noutras organizações, empresas, entidades públicas de toda a natureza.
Nessas transições, uma das modalidades utilizadas é a emergência de
situações que dão origem à criação de “Rainhas de Inglaterra”. A designação não
é lá muito abonatória para a monarca britânica, sobretudo agora que, depois de
visualizarmos cá em casa sofregamente as diferentes séries do THE CROWN (aguardo
com expectativa a nova série), acabei por ficar com uma outra ideia sobre
Isabel (bem sei que é ficção, mas …).
Em que consiste o modelo? Trata-se de lugares hierárquicos, uma espécie de “chairmen”
ou “chairwomen” das organizações, que pressupostamente ocupam esses
lugares para as defender com o seu prestígio e influência de outrora, sendo a
componente mais executiva e de meter as mãos na massa atribuídas a gente mais
nova, com outra energia e, regra geral, também com outras perspetivas do mundo
e do modo como afirmar as organizações a que pertencem.
O modelo tem muitas variantes e, por exemplo, nas universidades americanas
a figura dos Professores Eméritos é muito relevante, pois não interferindo no
dia-a-dia organizativo e de decisão dessas organizações muitos continuam a
desenvolver pensamento, investigação e publicação, contribuindo com o seu nome
e pensamento para a excelência da Universidade a que pertencem. Esta modalidade
é pouco apreciada em Portugal e em muitos casos a data da reforma é o primeiro
dia de um bota-fora como se esta gente queimasse, por vezes com o pretexto
legal, noutros casos com o da exiguidade das instalações.
Mas o modelo tem derivas e essas acontecem quando as personalidades
entronizadas com o estatuto de “Rainha de Inglaterra” decidem enveredar por
reinados mais interventivos, como se fosse possível de repente pôr de pés para
o ar o estatuto da monarquia. Resultado, quando se inverte aquilo que tem muita
força e deve assim continuar, temos complicação na organização e não raras
vezes temos duas “organizações” a funcionar. Na política é muito conhecido o
caso da Câmara Municipal de Elvas onde o então neófito Dr. Nuno Mocinha
permitiu que o velho dinossauro do PS Rondão Almeida ficasse com um gabinete
nas instalações físicas da Câmara Municipal. Pouco tempo depois, duas “Câmaras”
funcionavam em paralelo já que o homem com mais placas no concelho se recusava
a encarar que o seu período político acabara.
Imaginem as perturbações organizacionais decorrentes do facto das “Rainhas
de Inglaterra” se recusarem a aceitar na prática o estatuto que tinham sugerido
para acumular a sua própria transição para a vida inativa.
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