Há um personagem indefinível na nossa vida política e esse é o primeiro magistrado da Nação. A inteligência e o brilho intelectual de Marcelo são por demais inegáveis, assim como o seu inquestionável apego aos valores democráticos, o seu patriotismo, a sua enorme energia ao serviço de todas as causas que assume e o papel que já desempenhou no sentido de desbloquear vários dossiês nacionalmente incómodos e até potencialmente explosivos. Tudo méritos indiscutíveis.
Mas a inteligência emocional de que o Presidente dá mostras e a leitura que exibe como sendo a sua quanto ao lugar que lhe cabe no todo do País – com a exceção dos escassíssimos momentos em que desapareceu (que aliás só confirmaram a regra pela atrapalhação embaraçada com que reapareceu), uma necessidade de reação e posicionamento em relação a tudo o que mexe, uma pronúncia imediata sobre qualquer que seja o assunto (incluindo se estiver completamente fora do seu leque de responsabilidades), uma presença tão incansável quanto mutante e permanente – confirmam o que vários analistas (talvez que José Pacheco Pereira tenha sido dos precursores e dos mais afirmativos) vaticinaram: o cansaço com que a maioria dos portugueses recebe hoje as suas insistentes incursões televisivas diárias (neste Verão, tornou-se viral nas redes sociais um aviso de “praia sem Presidente”!) e a diminuição das expectativas dessa mesma maioria quanto à possibilidade de Marcelo poder vir a ocupar um espaço de reserva e intervenção próprio em caso de coisa grave.
Pelo meio ainda fica a relação com António Costa, cujos contornos se desconhecem na sua essência mas que parecem mais derivados de um jogo calculado de racionalidades do que de uma sincera solidariedade institucional (matéria certamente a explorar de acordo com muito do que está para vir nos meses mais próximos). E concluo: claro que o Presidente será novamente candidato e claro que vencerá com facilidade e distanciadamente, sobretudo porque muitos daqueles céticos do quotidiano não quererão hipotecar o futuro às mãos de aventuras mais do que ilusórias; mas claro também que os números não se traduzirão nos recordes ansiados e que o aparente unanimismo em gestação deixará mossas na esquerda e na direita democráticas e facilitará alguma perigosa consolidação de uma extrema-direita radical e grosseira. É como é!
(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)
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