quarta-feira, 5 de agosto de 2020

CHEGARÁ O CHEGA?


O arranjinho parece estar em estado adiantado de preparação. A meu ver, já será mesmo dificilmente reversível (vejam-se a lata com que Ventura confronta e desafia Rio nas páginas dos nossos jornais de referência, por um lado, e os envergonhados sinais de aparente vontade por parte deste, por outro). Se acontecer, varre-se-me qualquer ideia de tolerância para com a atual liderança do PSD em geral e para com Rui Rio em particular. Porque é altamente lamentável que hoje, quando mais do que nunca o País precisaria de uma oposição construtiva e inteligente, a segunda mais representativa força partidária vacile perante um “bota-abaixismo” apenas determinado por um mero desejo de assalto ao poder pelo poder de muito duvidosa filiação democrática e de ainda mais duvidosa companhia de circunstância (embora uma circunstância que tem, conjunturalmente, vários ventos a seu favor).

E não, não se contra-argumente com uma eventual equivalência às aproximações do PS ao Bloco e ao PCP. Porque estes partidos, crivados dos erros que possam ir cometendo e acusáveis de um ou outro alinhamento mais canhestro ou menos compreensível, não estão do lado da pura destruição, não incitam à violência gratuita, não propõem castrações medievais, não se pautam por uma ausência completa de valores de cidadania e progresso e não levam às últimas consequências algumas dimensões do seu ideário mais fundamentalista (veja-se o equilibrismo mais ou menos bem sucedido que têm vindo a conseguir fazer entre a respetiva defesa de uma recusa da Europa, ou de aspetos essenciais da construção europeia, e os ajustamentos que se lhes tornam politicamente imperativos na decorrência de uma efetiva e plena presença do País no “clube”).

Dentro do PSD, e algo estranhamente, as personalidades mais credíveis e mais suscetíveis de darem um contributo construtivo a Rui Rio primam por um silêncio que tem algo de ensurdecedor, deixando as despesas da crítica entregues a figuras do passado ou reconhecidamente menos colaborativas. Quase apetece apelar a tantas daquelas – e eles e elas sabem quem são! – no sentido de virem a terreiro para assim ajudarem a que possam ser impedidas tentações primárias que rapidamente se podem transformar em males maiores.

Dito tudo isto, confesso-me sobressaltado e indiscutivelmente preocupado. O populismo extremista, em toda a sua inconsequência arrasadora, alastra pelo mundo e acabará provavelmente por também por cá vir a assumir pesos indesejáveis e perigosos, coisa que será especialmente gravosa num país com o volume de insuficiências educativas e institucionais que ainda nos caraterizam. Neste quadro, e se dos riscos de barbárie não falarei por redundância, não devo nem quero enjeitar uma insistência centrada num talvez pueril apelo de consciência democrática e civilizacional!

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