O meu post de 9 de agosto referenciava um texto (ou, talvez melhor, uma espécie de “não-texto”) assinado por Pedro Santos Guerreiro (PSG) na sua coluna do “Expresso” dedicado à problemática do hidrogénio. Trata-se de uma matéria repentinamente tornada central e de moda, quer por via do forçado surgimento do Green Deal europeu quer por via da nossa muito lusitana mania de corrermos precipitadamente atrás das modas. Sendo esta uma matéria em que sou pouco mais do que leigo, fui à procura de esclarecimentos e encontrei nas minhas estantes um livro elucidativo, datado do início do século e confesse-se que não lido, da autoria de um especialista em grandes tendências (Jeremy Rifkin). Tudo somado, fiquei com a cabeça mais razoavelmente organizada sobre a dita questão do hidrogénio, seja enquanto elemento a ter em conta no futuro em construção seja até enquanto elemento a não descartar nas grandes opções energéticas nacionais e, de algum modo também, a ir considerando na estratégia de recuperação económica que a deve enquadrar. E fiquei a aguardar pelo prometido novo texto de PSG, o qual apareceu no fim de semana passado sob o título “A sustentável leveza do hidrogénio” e com o essencial lá dentro.
Dele retenho alguns excertos mais chamativos e sintomáticos:
· “Sim ao hidrogénio, mas sem embarcar nesta monumentalidade triunfal do Governo; não se for uma aposta chegada pela força dos lóbis e cegada pela urgência desesperada de espatifar o dinheiro dos outros.”
· “Há riscos: tecnológicos, de mercado e de cedência a lóbis. E, portanto, de precipitação e megalomania, dar passos maiores que a perna e sem saber que sentido terá a perna por enquanto para trás.”
· “A questão tecnológica significa investir cedo de mais, antes do custo tecnológico descer, como é provável. O Governo desatrelou a carroça para pôr os bois a andar mais depressa e lançou um megaprojeto nacional.”
· “A questão de mercado é mais complexa. É que ainda não há mercado. Ainda não há compradores. Ainda não há regulamentação. Nem fábricas, nem tubos, nem ligações. Ainda não há políticas tarifárias para o 'hidrogénio sujo' (...) e já estamos a meter hidrogénio em cima de nada. É a diferença entre investir e apostar. Apostar é esperar ganhar assumindo o risco de perder.”
· “Terceiro, os lóbis. Enquanto a eletricidade é energia 'de cabos', o hidrogénio é 'de tubos'. É, pois, um negócio que atrai não apenas elétricas mas sobretudo petrolíferas, que comem governos ao pequeno-almoço. Não há preconceito, há experiência e ceticismo.”
· “Não concordo com a posição retrógrada, mesmo que fundamentada, de um documento assinado por 40 contra o hidrogénio verde. Nem concordo com a insolação delirante do Governo, que tanto pode fazer de nós os pioneiros como os tolos da sala europeia, que, nimbados pelo brilho dos fundos de Bruxelas e aflitos com um país sem investimento, anunciam novas Autoeuropas e podem deixar-nos lindos sarcófagos.”
Ou seja, e como anunciara, PSG foi claro como água na reflexão que nos propôs acerca do hidrogénio e de tudo quanto o envolve por forma a vir a torná-lo uma possível prioridade energética nacional. O resto, que é necessariamente muito quando for para ser a sério, redunda para já em posicionamentos estéreis e sobretudo assentes em agendas variadas e largamente escondidas.
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