segunda-feira, 24 de agosto de 2020

EXATAMENTE HÁ 200 ANOS

Muito se tem falado na justa comemoração da Revolução Liberal do Porto, a qual teve a sua mais visível expressão no dia 24 de agosto de 1820, momento em que um grupo de cidadãos organizados em torno de uma associação secreta designada por “Sinédrio”, desencadeou no Porto (Campo de Santo Ovídio, depois Praça da Regeneração, hoje Praça da República) o movimento revolucionário que deu campo de abertura ao liberalismo em Portugal. Manuel Fernandes Tomás, juiz desembargador, é de algum modo tido por ser o líder de tal processo (acompanhado por figuras igualmente determinantes como José Ferreira Borges, José da Silva Carvalho e João Ferreira Viana) e é realmente a imagem dele tomando a palavras nas Cortes Constituintes de 1821 que surge pintada a óleo, há um século e por Veloso Salgado, num espaço maior da Sala das Sessões da Assembleia da República.

 

Não querendo aqui mergulhar fundo na dimensão histórica, sublinharei apenas quanto este facto relevou e releva para a nossa vida coletiva; e a vários títulos: (i) o seu contributo para o fim do domínio inglês sobre Portugal, o retorno da Corte do Brasil e a derrota do absolutismo (ainda que efémera às mãos do golpe miguelista de 1823, dito da “Vilafrancada”, o qual significou um retrocesso significativo no plano político e económico-social) com a aprovação da Constituição de 1822 e a inerente instauração de uma Monarquia Constitucional; (ii) o seu lastro decisivo para aquilo que é hoje o nosso Estado de direito, assente no primado da legitimidade democrática, na soberania do voto popular e na salvaguarda dos direitos fundamentais; (iii) a sua importância para a perceção que hoje crescentemente se vai tendo quanto ao papel decisivo do Porto nas grandes e mais substantivas viragens da História de Portugal, com o liberalismo e a modernização/industrialização do País como expoentes máximos dessa verdade insofismável. E é precisamente esse Porto guardião da tradição liberal e expressão de “fazer diferente” que está a ser celebrado, juntamente com tudo o que o está a ser pelo País fora por referência ao “bicentenário”, por várias instituições da Cidade, com a Câmara Municipal à cabeça das grandes iniciativas; não percam, nomeadamente, a magnífica exposição que ainda está patente na Casa do Infante.


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