(Não lembraria ao careca desencantar um bate-boca com a
Ordem dos Médicos, que não é flor que se cheire, esclareça-se, nestes tempos de
pandemia. Para cúmulo para tentar corrigir um percalço político
determinado por uma Ministra “ligeirinha”.)
Bem pode o bastonário da Ordem dos Médicos Miguel Guimarães fazer o papel de grande defensor do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que é manifesta a minha dificuldade para levar a sério tais intentos. A OM é uma instituição constitucionalmente reconhecida e tem todo o direito de defender os interesses dos profissionais que representa e que regula. Mas parece-me indiscutível que por vezes tem dificuldade em compreender que o SNS é uma realidade que transcende em muito os interesses profissionais dos médicos. Neste caso, até aceito que a defesa dos interesses dos médicos pudesse exigir que as condições de funcionamento do já célebre Lar de Reguengos de Monsaraz fossem analisadas e escrutinadas para lá da cortina de fumo que as estruturas regionais de saúde e da segurança social acabaram por criar em torno do surto de contágio aí observado. Não sei se a intenção do relatório era salvar a pele dos médicos que exerciam funções direta ou indiretamente relacionadas com o referido Lar. Mas as condições em que o relatório deveria ter sido publicitado apontariam para um outro posicionamento que não o verificado.
Do ponto de vista do que pensam os portugueses penso a vontade de reconhecer aos profissionais de saúde um papel crucial na abordagem à pandemia e na organização das instituições hospitalares em condições de tão grande pressão e com escolhas éticas e profissionais de grande exigência foi genuína. Pelo contrário, já penso que a decisão de festejar a atribuição da final das Champions com o argumento plasmado num grande agradecimento os profissionais de saúde foi daqueles momentos em que o primeiro-Ministro mais valia estar calado e que tal opção equivaleu a uma forte desvalorização da inteligência dos portugueses que felizmente é bem superior ao stock médio das qualificações.
Por tudo isto, a utilização de um relatório fora da caixa para comprar uma querela com os profissionais médicos nestes tempos revela um comportamento reativo que nos lembra o PS dos maus tempos. As estruturas regionais de saúde e da segurança social são excessivamente compostas por interesses de organização partidária e, como todos sabemos, no Alentejo existe uma luta latente, feroz, pelo controlo político da região, que transparece bem do confronto regular e frequente entre a presidência de Reguengos de Monsaraz (PS) e a de Évora (PCP). Ora, para além de contribuírem para a não dignificação das aspirações de regionalização, essas querelas em torno do controlo político são infimamente menos importantes do que o compromisso político que o PS deveria manter pela defesa das condições de vida e de fim de vida dos cidadãos, ponto final. Os lares em contexto de pandemia representam um dos cernes vitais desse compromisso e, por isso, não me interessam as condições de quem pode fazer relatórios. O escrutínio em democracia é fundamental, sendo ainda crucial que toda a sociedade civil se comprometa com esses objetivos.
Toda a querela que não obedeça a este princípio fundamental deve ser remetida para o mundo das minudências com as quais é criminoso perder tempo.
Nota final
Por falar em final da Champions a vitória do Bayern é a consequência inevitável e justificada de uma organização coletiva inabalável servida por atores ilustres. Quanto ao PSG, que poderia ter tido em alguns momentos melhor sorte, morreu preso de um “brinca na areia” (Neymar) de personalidade débil que é bem a imagem do país que o viu nascer, ou seja, a negação de algo estruturado e profissional. Que os jornalistas deste mundo algum dia tenham pensado que o brinca na areia poderia ser o melhor jogador do mundo, quando confrontado com artistas como Messi ou Ronaldo, diz bem do mundo bafiento e interesseiro em que o futebol hoje se movimenta.
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