sexta-feira, 28 de agosto de 2020

ARTE URBANA

 


(Ainda é agosto mas cheira a setembro e o outono aproxima-se vertiginosamente. Há que gozar os últimos momentos de um mês revigorante de férias, apesar da nortada (que é nossa como reza a imaginativa apresentação da Tabacaria Gomes) que finalmente chegou com alguns dias de atraso face à tradição. Por iniciativa de Amigos e vizinhos de férias de há muitos anos, o fim de tarde de ontem deu direito a uma visita guiada à Bienal de Vila Nova de Cerveira com a simpatia do Diretor Artístico da Fundação da Bienal António Cabral Pinto a servir de cicerone.

 

Gostaria um dia de refletir sobre a história da Bienal de Cerveira, com quarenta anos de vida e pronta para as curvas. Talvez ninguém imaginasse que a Bienal se aguentaria, mas a verdade é que o apoio da Câmara Municipal de Vila Nova de Cerveira, o entusiasmo de alguns grandes (José Rodrigues, Jaime Isidoro, Henrique Silva, Jaime Azinheira só para citar os mais consagrados), a dinâmica de jovens artistas e colaboradores e os primeiros passos de internacionalização fortaleceram a iniciativa e penso que todos que rumamos no verão a norte sentiríamos a falta da iniciativa e do ritual de a visitar. A arte em férias funciona bem e já lá vai muito tempo, quando rumava a sul e aos Algarves, ainda mantenho na memória a atmosfera inigualável do Centro Cultural de S. Lourenço, hoje irremediavelmente sem retorno, apesar da minha gorada insistência no Plano Estratégico de Loulé para a iniciativa poder ressurgir a cargo da Câmara Municipal, num dos mais complexos centros urbanos do Algarve que é Almancil.

Edição a edição, a Bienal vai conseguindo um casamento inteligente entre a presença de consagrados (por convite ou pelo facto regulamentar de premiados poderem por inerência estar presentes) e a inovação criativa e muito diversificada em termos de novas técnicas utilizadas que os jovens artistas concorrentes vão proporcionando. Assim acontece na edição deste ano, com a presença de consagrados como Calapez, Acácio de Carvalho ou Laranjo (este com uma peça vertical de grande beleza que me atraiu irresistivelmente) e inovações criativas em técnicas como a colagem digital, a revolução do vídeo, as instalações de néon e outras que a minha relativamente pobre formação artística me impede de descrever com a pertinente acuidade.

Mas há sobretudo um aspeto que sempre me atrai na vitalidade da Bienal é o seu contributo para que Vila Nova de Cerveira se afirme decisivamente como vila das artes e trabalhe a arte urbana como talvez nenhuma cidade ou vila com dimensão similar o faça a norte. VNC é um aglomerado de urbanidade muito contida, com grande investimento de espaço público, sem deslizes urbanísticos comprometedores (o cervo lá no cimo parece supervisionar essa garantia), para a qual a arte urbana exerce um papel fundamental. A educação do olhar constitui uma obrigação da política de valorização do espaço público.

Este ano o foco de atração é proporcionado por uma peça de grande envergadura do escultor israelita (nascido no Iémen) Zadok Ben-David (Girl on Run with shadow), já responsável pelo cervo do centro da vila, provisoriamente instalada junto ao rio, mesmo na saída do recinto magnífico da Feira de Cerveira.

Nota final

Depois de adoçar o espírito e o olhar, a gastronomia impõe-se. Jantar ameno de amigos no topo do monte fronteiro a Cerveira, implantação do aldeamento da Quinta das Mineirinhas, no restaurante A Casa das Velhas. Reconheço que a paisagem também se paga e a localização do restaurante é irrepreensível. Mas em termos de qualidade-preço pareceu-me um restaurante demasiado exorbitante para o que pode apresentar. E arte do posicionamento é crucial na restauração.

 

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