(Morreu Eduardo Lourenço. Precisarei de mais tempo para digerir a perda. Fica apenas a efeméride triste de um dia ameno e soalheiro em Seixas, com passeio pelo Camarido. Uma perda labiríntica, tão diversa era a riqueza e densidade da sua obra ...)
No pouco tempo que tenho, fica-me a última recordação de na última reunião de trabalho que tive na Gulbenkian, há talvez dois anos, passar por um corredor e ver o Professor atarefado nas suas atividades de investigação, com os seus 90 e muitos anos, com o entusiasmo próprio de um jovem investigador.
Mas entre tantas crónicas e artigos lidos ao longo do tempo, alguns dos quais ainda com a lucidez de quem analisa de fora, de Vence – Nice, o que me fica essencialmente é a espantosa influência que exerceu sobre mim O Labirinto da Saudade, que ele intitulava de Psicanálise Mítica do Povo Português. A leitura do Labirinto revolucionou a minha perceção histórica do lugar de Portugal na globalização e outros tempos e foi essencial para compreender a transição revolucionária e democrática em Portugal. E os seus escritos sobre a Europa, a França e o declínio da civilização europeia anteciparam-me a leitura do devir transformativo das instituições europeias e do próprio lugar no mundo da Europa.
Tudo isto sem perder a consciência cívica, a simpatia, o interesse pela cultura portuguesa, dissecada como não conheço mais ninguém.
Fico a com a estranha sensação de que nos deixou hoje o último Intelectual português digno desse nome e da sua não vulgarização.
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