domingo, 6 de dezembro de 2020

GISCARD


Quando cheguei a Paris, em finais de 80, ele era o Presidente da República (a imagem acima era a dominante) e representava uma espécie de Droite que parecia invencível até que Mitterrand o derrotou em 1981. Festejei nas ruas e confesso que não tinha grande apreço por Valéry Giscard d’Estaing, quer pelo seu pendor aristocrático quer pelo então muito falado e nunca cabalmente esclarecido “escândalo dos diamantes”. Aos poucos, com o tempo e uma observação mais cuidada, percebi que Giscard tinha as qualidades que hoje, com o seu desaparecimento já próximo de completar 95 anos, toda a sociedade francesa lhe reconhece (moderno, liberal, reformador, europeu). Já idoso, ainda prestou o serviço de andar pela liderança da “Convenção para o Futuro da Europa” (2002/03) e nunca deixou de ir participando como podia no debate das grandes questões francesas, europeias e mundiais. Como bem evidencia Plantu, Giscard é o último a juntar-se no Céu (?) aos grandes políticos franceses da minha geração (De Gaulle, Pompidou, Mitterrand e Chirac), encerrando assim em definitivo um ciclo histórico com muito sumo para espremer e muitas lições a reter.


(Jean Plantu, http://lemonde.fr)

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