sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

REFLEXÕES MÁS COM BOM PROPÓSITO

Na última “Circulatura do Quadrado”, António Lobo Xavier (ALX) falou da TAP da seguinte e cristalina maneira: “Não vale a pena salvar a TAP a este preço. Não vale por várias razões: todo o serviço de bandeira, a que eu reconheço utilidade, pode ser serviço público feito por outros – há muitas coisas que a TAP faz que teriam outro custo, envolveriam menos impostos, se fossem feitas por outros, com outra eficiência e sem ser necessário andar lá a bandeirinha; os custos da tomada de controlo da TAP são muito severos para um país com as debilidades do nosso e, portanto, foi uma escolha errada e precipitada; o drama não foi causado pela pandemia, a TAP melhorou mas já estava mal antes de começar a pandemia; (...) se não houvesse União Europeia nem controlo das regras de concorrência, o dinheiro era lá despejado de qualquer maneira – felizmente, a União Europeia protege-nos dessas aventuras e a reestruturação vai ser aquela que a União Europeia exigir que deva ser, porque senão não havia nenhuma.” Este é todo um debate que está na nossa ordem do dia, mas é um debate especialíssimo porque demonstrativo de como a política e a economia funcionam de acordo com regras completamente diversas – e é tão chocantemente impressivo ver como os partidos, todos eles, correm atrás do discurso imediatista e fácil (salvar a TAP como um fim em si mesmo, uns porque sim e outros porque mais que também, da empresa-bandeira à portugalidade no mundo, do seu peso na economia nacional à sua capacidade de arrastamento no quadro dela, do emprego a defender ao turismo a estimular) sem cuidarem do condicionamento associado à grandeza dos números em presença e das suas potenciais implicações (quer desconhecendo a essência do conceito de custo de oportunidade, quer desvalorizando a significância das dinâmicas competitivas, quer minimizando o fardo de passivos intergeracionais, quer esquecendo as restrições do quadro europeu que nos envolve)! Porque, chegados aonde coletivamente deixamos a TAP chegar, após anos e anos de “gestão política” no seu pior, já não há nenhuma solução satisfatória, sequer!

 

Mas ALX não se limitou a pôr o dedo numa ferida aberta (onde só lhe faltou uma referência menos valorizadora ao modo como, por imperativos de realpolitik conjuntural, a DG COMP da Comissão Europeia pode ser levada a abordar menos rigidamente o dossiê). ALX também quis vaticinar um 2021 pouco tranquilo para António Costa, afirmando nomeadamente o seguinte: “Eu acho que nós estamos numa época (...) de fim de ciclo. E é mesmo este ano porque repare que este ano há o risco de acontecerem três coisas complicadíssimas. Uma primeira é a reestruturação da TAP gerar conflitos sociais muito difíceis de suportar, embora os partidos que apoiam a solução governativa estivessem de acordo com a bravata da nacionalização ou da reversão; o PS, e o Governo, deviam aguentar sozinhos a responsabilidade, por isso não deviam levar à Assembleia da República (...) para obter um acordo de regime; o PS decidiu sozinho, com os seu parceiros da esquerda, a bravata da reversão e agora a bravata rebenta-lhe nas mãos; não procurou consensos para coisa nenhuma com nenhum partido nem alargar os entendimentos sobre o futuro da TAP; aguente-se sozinho. Mas as três grandes bombas-relógio que eu vejo estão na reestruturação da TAP, mas também no sub-epílogo do caso do Novo Banco – com a auditoria bastante bizarra do Tribunal de Contas, que vai dar muito mais problemas do que imaginam – e na insistência num sistema pouco capilar de distribuição de vacinas (...). Digo isto só para se ter a noção de como é que é o meu quadro para o ano de 2021: não há governo com força capaz de suportar uma coisa destas no mesmo ano e eu acho que este não tem força sequer para suportar terramotos de grau bastante inferior.” Parece-me uma análise justa e adequada, talvez apenas pecadora por defeito; a não ser que a Presidência Europeia se torne uma boa entretenga e só lá mais para o Verão seja trazido à superfície todo o lixo que est(ar)á em acumulação – sem esquecer que Marcelo mudará no primeiro trimestre e que há autárquicas no Outono...

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