(Breves reflexões Natalícias, agora que os sorrisos e alegria dos netos voltaram após alguns meses. Oportunidade também para enviar um abraço afetuoso a todos os que visitam regular ou esporadicamente este espaço de opinião mais ou menos reflexiva consoante as circunstâncias e os temas.)
Não foram os quatro, mas apenas dois (a quatro a algazarra é infinitamente maior), já que o Francisco e a Catarina rumaram de Lisboa ao Algarve, nesta ligação que vai de Faro a Seixas. Mas a Margarida e o Pedro, rumando de S. Lázaro até Gaia assumiram e bem a responsabilidade, trazendo a Tristão Vaz a alegria que só a miudagem nos pode proporcionar, haja mais ou menos prendas, a ansiedade não tem qualquer correlação com a dimensão dos embrulhos ou o número de presentes. É a ansiedade de Natal que antecipa regularmente rituais e já foi tempo de esperar pela meia-noite.
As circunstâncias deste Natal são algo estranhas, pois estamos sob o sentimento de culpa por uma possível terceira vaga de contágios. Encontramo-nos agora com a hipótese de estar a contribuir para que janeiro nos faça regressar ao tormento e por isso que o tom geral foi de moderação na dimensão dos grupos familiares. É óbvio que a gestão e a regulação dos comportamentos de cidadãos e famílias constituem dimensões cruciais do controlo pandémico e aí bem poderíamos ter resultados bem piores pois a dança das orientações superiores foi por vezes agitada, fora de tom e até atrasada nas mensagens principais. Mas apesar da evidência da razoabilidade e sentimento de prudência da maioria dos portugueses, o que ressalta é que só o papel determinante da ciência e do que ela alcançar em matéria de efetividade da vacina constituirá a solução determinante para o regresso ao normal, que será diferente do que tínhamos construído nos últimos tempos. Como diz com pertinência a Clara Ferreira Alves, ciência e logística são a chave do problema, às quais acrescentaria o sentido prudencial dos comportamentos e da ação política.
Caminhamos para o fim de 2020 com a sensação de que as melhores realizações são aquelas de que só damos devida conta quando delas necessitamos e não nos faltam. Esse é o caso do Sistema Nacional de Saúde, o qual continuo a dizer que é proporcionalmente mais capaz do que o nosso nível de desenvolvimento socioeconómico nos anunciaria. E temos com o Plano de Recuperação e Resiliência uma rara e definitiva oportunidade para consolidar os serviços de proximidade e sobretudo os laços de articulação organizativa com o sistema de proteção social (lares e centros de dia), os quais necessitam de manter com o sistema de cuidados primários uma relação cada vez mais forte e coerente. Estou certo que vai ser assim com a vacinação, desde que se consiga chegar com rigor e eficácia aos que não procuram regularmente os centros de saúde ou não têm com eles qualquer contacto que permita a sua identificação. Foi assim com o nosso nível excelente de baixa taxa de mortalidade infantil, é assim com as nossas taxas elevadas de vacinação noutros tipos de vacinas e foi também assim com o reconhecimento europeu das nossas práticas de abordagem à toxidependência. Como diria o saudoso Eduardo Lourenço, embrenhados na nossa procura de uma identidade compatível com a exiguidade do nosso território, temos por vezes dificuldade de reconhecer os nossos potenciais que só necessitam de ser consolidados.
À medida que caminhamos para o fim de 2020, o acordo comercial em torno do BREXIT é também uma boa notícia, embora muitos dos aspetos do acordo, pelo que pude compreender a partir do Financial Times, ficam dependentes de iniciativas bilaterais a desenvolver pelas partes. Mas numa altura em que uma nova variedade de vírus parece querer dar razão ao sentimento de individualidade que os Britânicos evidenciaram, mal aconselhados, na decisão referendária de querer sair da União, não podemos ignorar que a dimensão atlântica da União fica mais débil com esta separação. O que também é um problema nosso. Vá lá que o relacionamento da União com a América de Biden promete ser mais promissora do que o estado lamentável do mesmo gerado por Trump, o que em meu entender terá consequências no posicionamento do Reino Unido, acaso este resista às tendências internas de implosão.
São tempos de empatia, por agora mais no sorriso, no olhar e nos gestos simbólicos e menos nos abraços.
Feliz Natal para todos e que nestes dias encontrem forças para entrar no desafiador 2021.
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