quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

NO FUNDO DOS FUNDOS

A organização política do Estado espanhol é reconhecidamente bem diversa da nossa. Para o bem e para o mal. De facto, estes anos em que sequencialmente por lá se viveu uma grave crise económica, uma luta secessionista, uma forte instabilidade eleitoral e uma pandemia duríssima trouxeram com clareza ao de cima o que poderão ser os limites a ter em conta no quadro da questão das autonomias regionais, facto que necessariamente nos deve levar a interrogarmo-nos com inteira objetividade sobre o âmbito e condições do nosso próprio processo de descentralização e regionalização.

 

Dito isto, o que já não é pouco, há também toda uma outra questão, chamemos-lhe de transparência e escrutínio territorial. E foi essa com que me deparei ontem, ao ler o “El País”. Tratava-se de uma notícia dando nota da repartição pelas Comunidades Autónomas da parcela do Mecanismo de Recuperação e Resiliência Europeu a utilizar em 2021 (entre a ajuda mais imediata do chamado REACT e a sua dimensão temporalmente mais prolongada em termos de sustentabilidade económica e transição ecológica e digital). E aí está, acima reproduzido, o quadro em que se apresenta a dita repartição de modo visível e inequívoco (maiores ou menores justiças de critérios descontadas, por ausência de aprofundamento pessoal sobre o assunto). O que pretendo relevar, isso sim, é o contraste com a situação nacional de completa gestão centralizada daquelas matérias – sendo que, em tempos não muito longínquos de uma minha encarnação profissional de então, fizemos as contas de acordo com o “espírito do legislador” europeu e chegamos a chaves de repartição regional que, mesmo que não tendo de ser levadas excessivamente à letra, deveriam de algum modo servir de referenciais (a AML e o Norte a terem um direito genérico a aceder a 2,3%, 16,8% e 23,9%, no primeiro caso, e a 50,4%, 46,2% e 35,8%, no segundo caso, respetivamente do QFP, do MRR e do REACT [situação do quadro abaixo], diferenças explicáveis pelas lógicas legislativas ou indicativas próprias definidas para a Política de Coesão e para o “Next Generation EU”, aqui diferenciando ainda o atingimento pandémico imediato da recuperação económica desejavelmente subsequente). Uma matéria sobre a qual prefiro, pelo menos de momento, quedar-me por aqui.

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