segunda-feira, 15 de novembro de 2021

A ESQUERDA RADICAL A GOVERNAR

 

                                                                            (Yolanda Díaz)

(O governo de Pedro Sánchez encontra-se numa fase particularmente curiosa do seu modelo de atuação, que alguns analistas, procurando o equivalente impossível para a nossa “geringonça”, apelidaram de Frankenstein. Particularmente depois da saída de Pablo Iglésias do governo, do PODEMOS e da política e com a entrada de Yolanda Díaz para a vice-Presidência do governo, temos assistido a uma tal multiplicidade de situações, desencontros e encontros que estamos perante um notável caso de estudo para a ciência política dos contextos do não bipartidarismo. Claro que os desencontros superam em grande medida os encontros, como por exemplo o da legislação laboral. Estou crente que a grande maioria dos portugueses ignora por desinformação ou simplesmente porque não está para isso o que se passa com o governo de Espanha. Não hesito em concluir que isso favorece os acordos à esquerda em Portugal, porque caso contrário haveria muita gente que se assustaria com possíveis remakes do lado de cá da fronteira por mais permeável que ela seja.

A matéria dos desencontros de que falava na introdução estão muito para além de diferentes visões sobre os problemas que naturalmente o PSOE e o PODEMOS alimentam, isso não é novidade. Os desencontros mais frequentes são, pelo contrário, exemplos de guerrilha no interior do próprio governo como se o PODEMOS fizesse oposição a partir de dentro e o PSOE combatesse uma oposição que está dentro. Estranho, não?

Claro que um contexto com tamanha dimensão paradoxal teria que ser campo fértil para os comentários conservador-viperinos e nesses, como já se habituaram, os de Xosé Luís Barreiro Rivas estão à cabeça dos que têm efetivamente qualidade. Claro que me dirão alguns amigos que de tanto ler e comentar gente conservadora e viperina corre-se o risco da mutação e ficar como eles. Corro o risco e acredito na minha resiliência.

A crónica de hoje no Voz de Galicia (link aqui) é uma provocação e tem por título Yolanda, simplesmente Yolanda, título que lembra a incontornável canção que ouvimos em várias interpretações, Pablo Milanes, Chico Buarque Simone e outros. O foco viperino é obviamente Yolanda Díaz, Podemos, Vice-Presidente do governo de Sánchez. Por estes dias, Yolanda animou com todo o estrondo um encontro em Valência de líderes políticos mulheres. Não quero ser mauzinho, mas deixemos a imaginação funcionar e admitir um cenário para as calendas em que Catarina Martins estaria no governo (salvo seja):

Citemos o viperino numa tradução livre porque além de tudo Barreiro Rivas escreve num castelhano de fino trato e um pouco inacessível ao “portunhol”:

O que eu vi em Valência foi a evidência de que Yolanda Díaz considera já impossíveis todos os ensaios iniciados a partir do 15M. E, com medo de que uma rajada de vento eleitoral leve à sua frente os novos ensaios de oportunismo institucional, está a tentar passar o ancinho pela pele do touro e montar um vendaval populista (Novas políticas), feminista (Novas políticas), oportunista (Novas políticas), dialogante (Novas políticas), glamoroso (sem rastas nem rabos de cavalo), quase burguês (sem nada que ver com a Nicarágua) e eurocomunista (com a flexibilidade de Carrillo, que acabou no PSOE e a bem preparada personalidade de Berlinguer, quase ateu, patriota, defensor da unidade de Itália, mais admirador do capitalismo industrial do Norte do que da Itália profunda do Sul). E com uma estratégia muito simples na sua cabeça: dar cabo das pretensões de Sánchez e afirmar as suas, para poder chantagear melhor do que agora e imortalizar-se para a história – ressuscita Delacroix – como a Liberdade guiando o povo. Por isso Yolanda resumiu o seu encontro com as líderes femininas com estas combativas e programáticas palavras: “o começo de algo que vai ser maravilhoso”. Uma frase a meio caminho entre Casablanca e Tudo o que o Vento Levou.

O problema que têm os políticos candidatos é que, quando alcançam algo de poder, em vez de governar para o país (empresários e trabalhadores, pobres e ricos, rurais e urbanos, sábios e analfabetos, jovens e velhos, homens e mulheres), voltam-se mais para os seus, desequilibram as estruturas sociais e económicas e geram uma política hemiplégica que, com cada solução, gera novos problemas. Mas isto está a acontecer agora e não se trata de o remeter não para Sánchez mas para a futura presidenta do país. Porque, com a descrição que Yolanda fez das novas políticas, pode esperar-se que se triunfasse poderia corrigir os seus desvios atuais e converter-se numa interessante experiência nacional.”

(Gralhas diversas corrigidas em 17.11.2021)

Sem comentários:

Enviar um comentário