(Intuí pelos poucos livros de Almudena Grandes que já li, outros vêm a caminho, e sobretudo pelas suas crónicas no El País que a escritora sempre foi um símbolo marcante de uma maneira incomparável de estar na vida, na literatura, na política, na cultura do quotidiano. Tudo isso esteve hoje presente no Cemitério Civil de Madrid para a despedida derradeira de Almudena e para levar o seu corpo à terra. Mas que bonito e comovente foi ver gente anónima com os seus livros na mão, assistir ao respeito de Pedro Sánchez pela escritora, identificar camisolas anónimas do Atlético de Madrid, ver o seu marido o poeta Luís García Montero depositar na urna um livro seu de poemas, pressentir gente anónima presente e imaginar a voz de Joaquím Sabina em duo com Chabela Vargas a cantarem Noche de Bodas e a voz inconfundível de Ana Belén a ler um poema.)
Para mim a literatura é isto e também uma certa imagem e cultura da esquerda espanhola passou por ali, com a qual muito me identifico. Rezam os relatos do El País (link aqui) que também a Grândola Vila Morena foi cantada e também a Internacional não faltou. Por vezes, é preciso fazer algumas romagens para que algumas ideias se sintam vivas. Os deserdados e os perdedores da história viram partir com Almudena uma das melhores intérpretes das suas histórias de vida, da bravura das suas derrotas.
Imagino o silêncio absoluto que paira sobre o Cemitério de Madrid.
Encontrar-nos-emos seguramente com os seus livros que é a melhor forma de a manter viva e longe do esquecimento.
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