(Se o concerto de Jorge Palma comemorava o aniversário dos seus 70 anos, posso dizer-vos que do alto dos meus 72 nunca me senti tão paradoxalmente constrangido num concerto. A razão do paradoxo é evidente. Por um lado, a excelente qualidade do que musicalmente nos era oferecido. Por outro, o constrangimento de estar numa sala quase no seu pleno, embora com máscara, mas com a evidência ao entrar de que não estava a ser feita qualquer prova de vacinação realizada, apenas o controlo do bilhete. Ou seja, não imagino qual era a presença na sala de gente ainda ou não querendo ser vacinada. O que não é sinceramente agradável. Mas com a melhor máscara possível, lá nos conseguimos distender um pouco, tirando partido de que por perto não se tossia, apenas se via o telemóvel. E apesar do paradoxo e do constrangimento foi um grande concerto).
Nunca tinha visto o Jorge Palma com uma orquestra de câmara, neste caso uma jovem orquestra dirigida pelo maestro Cesário Costa. A fórmula recomenda-se pois não só o Jorge já evidencia o peso da idade quando está a solo com a guitarra, como a sua cultura musical e destreza pianística alinham bem com a sonoridade de uma orquestra de câmara, que manteve em muitos momentos uma excelente cumplicidade com o artista.
70 voltas ao Sol são obviamente uma oportunidade única para o Jorge revisitar os grandes pilares da sua popularidade, mas agora com orquestrações novas, dos músicos Filipe Melo e Filipe Raposo, com alguns musts na sessão como um empolgante “Frágil”, uma ternurenta canção de Lisboa que não pôde chamar-se assim porque a Sociedade Portuguesa de Autores não o deixou, uma canção escrita para Carlos do Carmo que gostaria de voltar a ouvir e outros referentes da música de Palma como o “Deixa-me Rir” ou o “Encosta-te a Mim”, pelas quais o tempo não passa e nas quais os que gostam da sua música se continuam a rever e a apreciar novas maneiras de as tocar e cantar.
Mas como não tinha preparado o concerto revendo textos e lendo o programa, a surpresa mais agradável foi a entrada em cena da voz incontornável e da figura esbelta de uma Mulher que continua a seduzir os palcos com a sua qualidade e presença, Cristina Branco. Obviamente o momento foi a “Estrela do Mar” e depois um duo com Jorge Palma no centro do palco para uma deliciosa “Ai Margarida”. E nesses momentos esquecemos o constrangimento inicial, um efeito surpresa sabiamente gerido e ao qual a grandeza de uma artista da qual esperamos novos concertos deu uma atmosfera muito particular.
E lá nos escapulimos o melhor que pudemos para evitar indesejáveis concentrações em movimento, nas quais é mais difícil manter distâncias de segurança.
Não soube como o iríamos saborear se dele tivéssemos usufruído noutras condições, mas deu para inscrever nas recordações do tempo pandémico.
As imagens são as possíveis, já que não venci o pudor de usar o telemóvel. E o Facebook não estava hoje particularmente rico em matéria de registos informais do concerto de ontem.
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