(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)
Não direi que tudo mudou com as eleições internas do PSD ontem realizadas e respetivo resultado. Mas, indiscutivelmente, o panorama político nacional arrisca-se a ganhar um frisson que até agora parecia imprevisível.
Pessoalmente, gostei da vitória de Rio porque ela pôs no devido lugar a arrogância de Paulo Rangel, da multidão de “baronetes” que decidiram segui-lo por razões de cálculo pessoal e da maioria dos comentadores que há um mês vinham afiando os dentes contra o “parolo” do Norte que tinham venerado enquanto Presidente da Câmara do Porto. Também acho que ele tem uma melhor perceção (ou intuição?) do que o País necessita nesta fase, em termos políticos, económicos e sociais e que só ele e o seu programa poderão minimamente ser capazes de tocar (e acordar) um Costa tático e já inclinado a repetir “mais do mesmo” (veja-se abaixo, e exemplificativamente, o seu projeto de cartazes ontem divulgado no “Expresso”!).
Outro aspeto que resultou evidente destas eleições internas foi a falta de ligação efetiva (em termos de capacidade de influência e comando) das estruturas distritais e concelhias, sobretudo daquelas (como Porto e Braga) que apoiaram Rangel e perderam largamente para Rio ― dá que pensar e é matéria que deveria ser tratada seriamente, e com consequências, dentro do partido. Identicamente, os presidentes de câmara que se deixaram seduzir pelo canto de sereia de Rangel ou pelo cheiro a poder que emanava também não se podem considerar como tendo ficado minimamente bem na fotografia ― do que consegui reunir, estes foram 22 a Norte e alguns deles sabiam o suficiente (ou tinha-os por suficientemente dignos e personalizados) para poderem ter feito melhor do que caírem na doce ilusão de “elitistas, sulistas e liberais”, casos dos nove que lideram a Póvoa de Varzim, Esposende, Boticas, Amarante, Régua, Terras do Bouro, Murça, Braga e a Trofa.
Numa avaliação global, e necessariamente muito pessoalizada, julgo que resulta de ontem que Marcelo também sofreu um revés (por muito que o disfarce sob a capa do institucionalismo que gosta de proclamar), que Rangel já não volta lá (o que é uma boa notícia para o País), que qualquer maioria absoluta ficou fora dos possíveis de 30 de janeiro de 2022 (sobretudo porque Rio adquiriu um elã que terá efeitos corrosivos sobre a votação de Costa, ao mesmo tempo que a dimensão desse arrebatamento e os ganhos derivados não parecem capazes de o levar a esse objetivo) e que o tal governo de “maioria presidencial” que previ como o mais provável outcome das legislativas tanto poderá ser do PS como do PSD (probabilisticamente em partes quase iguais, digam as sondagens o que disserem) ― daí que a imagem de abertura deste post possa ser vista como algo enganosa, na medida em que a plausível partilha do leito entre Costa e Rio ainda vai ter de passar por vários episódios de emoção e agressividade até acabar por acontecer em função dos momentos de forma de cada um dos dois protagonistas e do engenho que consigam reunir (e talvez que, a este nível, o desafio de Costa até seja maior...) e tornar convincentemente explícito junto dos seus concidadãos.
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