quinta-feira, 18 de novembro de 2021

OUTRAS REAÇÕES QUE CONTAM ― TAKE 2

Faltava ainda a palavra do terceiro candidato maior, Paulo Rangel no caso. Que chegou no “Expresso” do Sábado imediatamente seguinte, num registo ainda muito tentativo e mais orientado para ir preparando a mão do que para deixar ditas coisas pensadas e adquiridas (aliás bastante em consonância com um político de causas bastante flexíveis, como se lhe reconhece desde os tempos difíceis das suas gloriosas solicitações antinacionais em pleno Parlamento Europeu). Mas ficou dito e inquestionavelmente claro que Rangel, um pretenso arauto da iniciativa privada e da necessidade de crescimento, defende uma subida significativa do salário mínimo (assim confundindo aumento do salário mínimo, a concretizar com gradualismo e ponderação, com o modelo de baixos salários associado ao nosso modelo económico) ― santo e esclarecido posicionamento político!


Os restantes protagonistas à esquerda, ou seja, os parceiros da “geringonça” também reapareceram, embora apenas proclamando as suas inatacáveis “verdades” (a leste nada de novo...) e prolongando as suas já estafadas acusações. Sendo que, neste âmbito, o ponto que me parece mais sintomático é o do frenesim com que Francisco Louçã ― que é presença constante no “Expresso” e na “SIC” ― pretende tapar o sol com a peneira ou, dito de outro modo, fazer uma permanente demonstração do bem-fundado da estratégia suicida que impôs ao seu Bloco sob o pretexto de uma indemonstrável fixação de Costa na maioria absoluta. Vale a pena reler a sua deliciosamente delirante prosa de 9 de novembro (“A misteriosa conspiração da madrugada de 22 de julho”), que termina deste modo: “Terá então sido na tal fatídica madrugada de 22 de julho que [o primeiro-ministro] compreendeu a crise e passou a conspirar nas trevas? Nada o permite dizer. Já antes tinha avisado que notara o incumprimento e até a desfaçatez e, por isso, afirmara alto e bom som que só confiaria em compromissos verdadeiros. E, com franqueza, só mesmo no palácio de S. Bento se pode imaginar que Portugal treme de excitação pelos rios de leite e mel que, como tantos fluxos de fundos europeus que alimentam os sonhos governantes ao longo de décadas, viriam pela enésima vez promover as “reformas estruturais” que são a nossa obra de Santa Engrácia, ou que o encantamento com a distribuição desses fundos determinaria a política dos partidos de esquerda. Deste modo, é de suspeitar que as razões da crítica ao Governo não são uma conspiração e que tal fantasia se destina a esconder uma grandiosa ambição.” Acrescentando: “Ao provocar eleições para tentar obter uma maioria absoluta que gira a seu bel-prazer os 16 mil milhões de euros e os entregue a algumas empresas e obras, o Governo limita-se a virar as costas aos problemas que definem as dificuldades do país e que exigem muito mais do que esses cheques episódicos: a pobreza de milhões de pessoas, o desemprego jovem, a redução dos salários de quem tem mais qualificações, a degradação do serviço de saúde, a mancha de eucaliptos que nos condena aos fogos, as rendas extravagantes na energia, o poder corruptor dos interesses financeiros. Mas é por isso mesmo que afirma ser imperativa uma maioria absoluta, só ela pode amordaçar o país durante quatro anos. Evocar a tal misteriosa conspiração de 22 de julho para fundamentar essa vertigem do poder absoluto é somente a anedota que o cinismo conta ao descaramento.” Porque uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, meu caro Chico!


Enquanto o mainstream luso-português continuava a sua saga anti-Rio (“não se percebe o que quer Rui Rio”), apesar de o ter endeusado durante os seus anos de Câmara do Porto e de hostilidade ao FC Porto, uma relevante intervenção madeirense (Alberto João Jardim, pois claro) saiu da concha em defesa integral de Rui Rio e com acusações fortes de incoerência vivenciada nas suas relações europeias com Paulo Rangel. Senão, e descontando pequenos laivos de populismo, vejam a argumentação: “Ele [Rui Rio] faz muito bem porque há objetivos imediatos do PSD para o País. A primeira são as reformas legislativas e constitucionais que têm de ser feitas. Em segundo lugar, é a necessidade de instaurar a disciplina democrática depois das mudanças no Estado de direito. Em terceiro lugar, é preciso instalar a transparência democrática ― tudo isto anda ao sabor de sociedades secretas, de lóbis e de grupos de interesses. Depois, é necessário pôr o País a trabalhar e apenas haver assistencialismo para aquelas pessoas que não podem, de facto, trabalhar. Depois é preciso devolver Portugal aos portugueses através da regionalização do Continente. E depois é preciso intervir na União Europeia de forma a fazê-la avançar e federalizá-la.” Não estaremos, pela mão de Jardim, a ser desafiados a abordar temas judiciosos e que merecem alguma reflexão séria?

Ainda faltava a pronúncia da ala esquerda do PS. Que aconteceu no Sábado (“Lei da Bolha”) através de Duarte Cordeiro, manifestamente um personagem diferente e bem mais pequeno do que o “chefe” Pedro Nuno Santos. A fragilidade da sua argumentação, apenas politicamente amarrada a clichés largamente ultrapassados, irritou o seu interlocutor à direita do Partido, Sérgio Sousa Pinto. E foi um momento alto ouvir este a denunciar o que tem sido a “estratégia” deste PS “costista”, taticamente suportado pelas franjas internas ditas mais à esquerda e mais capazes de voltar a “geringonçar” o País. Assim falou, em tom exaltado: “Estou farto de mendicância, à volta do PCP e do Bloco de Esquerda. E existe a possibilidade de o País também estar farto deste espetáculo de mendicância. (...) Eu estou a falar do espetáculo, do espetáculo da negociação orçamental, esse espetáculo que se mantém. (...) Eu prefiro um Partido Socialista afirmativo, o tal Partido Socialista que pede ao País com clareza uma maioria para governar, do que um Partido Socialista que está sempre a tentar trazer ao seu redil e à sua liderança estratégica... (...) Chega de andar a apaparicar o PCP e o Bloco, chega, chega. Não podemos fazê-lo com pessoas que não estão dispostas a partilhar connosco as grandes responsabilidades estratégicas do País.”

Concluirei estas sintéticas notas amanhã com mais algumas considerações potencialmente úteis para entendimentos lúcidos sobre o que comanda as agendas destes dias e o que podem ser os caminhos a vir.

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