O novo veto da lei da eutanásia pelo Presidente da República, assim remetendo na prática a decisão para a próxima legislatura, é uma manifestação grave do modo como aquela figura primeira do Estado entende os seus poderes e os exerce até onde lhe é visceralmente possível fazê-lo. Já todos sabíamos que o posicionamento de Marcelo é irritantemente egocêntrico e disfarçadamente autoritário; temo-lo sentido em praticamente todas as áreas da nossa vida pública, acerca do que deve e do que não deve, falando sem restrições do muito que sabe e do pouco que não sabe ou de que se lhe exigia que guardasse algum recato. Obviamente que “o homem” já não vai mudar, aquilo está-lhe na massa do sangue, mas sempre convirá deixar dito que em matérias societais altamente complexas, como a da eutanásia, as convicções pessoais e religiosas acabam por valer quase nada quando um sofrimento irreversível põe a nu a chocante fragilidade da condição humana.
Se "todos sabíamos que o posicionamento de Marcelo é irritantemente egocêntrico e disfarçadamente autoritário", os deputados que elaboraram o projeto deveriam sabê-lo também, e cuidado de escrutinar, exaustivamente, o diploma a fim de não oferecer pretextos de ordem técnico-jurídica para legitimar o veto. Pressa, incúria, ou básica incompetência?
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