Parece ter chegado ao fim a negociação ― algo demorada mas definitivamente séria e traduzida num documento de acordo com 181 páginas ― que vai conduzir à designação do próximo governo alemão, a liderar por Olaf Scholz (SPD) e a incluir os Social-Democratas em coligação com os Verdes e os Liberais. Uma boa notícia para a União Europeia, mesmo que não se desconhecendo que qualquer solução governativa na Alemanha dos nossos dias é necessariamente marcada, para o bem e para o mal, por uma enorme constância e estabilidade de valores e práticas. Em contrapartida, o acordo alcançado faz emergir um conjunto de aspetos promissores, que ilustrarei em breves pinceladas: (i) o ponto mais relevante para nós decorre do facto de, não obstante a escolha do líder liberal (e declarado falcão) Christian Lindner para futuro ministro das Finanças, parecer ter ficado estabelecido (a confirmar, já que nesta matéria só vendo para crer) que a Alemanha não será um fator de significativa dificuldade no tocante à defesa de uma ortodoxia regressada quanto aos termos que deverão comandar uma próxima revisão do Pacto de Estabilidade; (ii) outros pontos a merecerem ser assinalados (e onde a verde Annalena Baerbock terá oportunidade de procurar fazer alguma diferença à frente dos Assuntos Externos) provêm de alguns apontamentos quanto à futura relação com a China (mais fumo do que fogo?), quanto à firmeza face à extrema-direita e movimentos antieuropeus e quanto a uma proclamada aspiração por um projeto europeu mais integrador; (iii) por fim, e sem prejuízo de outros tópicos que irão vindo à tona, a criação de um ministério da Economia e Clima, a ser dirigido pelo colíder verde Robert Habeck (que será também vice-chanceler, conjuntamente com o social-democrata Wolfgang Schmidt), é uma relativa novidade e um elemento a considerar como uma potencial e inédita direção de mudança. Veremos, mas estamos agora finalmente em condições de brindar a Senhora Merkel com um definitivo auf wiedersehen...
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