(Hoje estou mais para música do que para outra coisa e nos últimos dias tenho andado a descobrir a obra de Lana del Rey que em grande parte desconhecia, começando do presente para o passado, ou seja do fresquinho e magnífico BLUE BANISTERS para álbuns anteriores. Mas hoje fixo-me num disco clássico, o projeto Mozart Momentum 1785 do pianista norueguês Leif Ove Andsnes e da sua Mahler Chamber Orchestra que dirige ao piano. Trata-se de um disco magnífico (Sony Classical) (link aqui) e a minha intuição diz-me que será provavelmente um dos melhores discos de 2021. Como irão compreender, o apego a este disco é também a compensação de um espectador frustrado nas suas intenções de ver ao vivo este ano Andsnes e a Mahler Chamber Orchestra.
É verdade que Leif Ove Andsnes e a Mahler faziam parte da programação de 2020-2021 da Gulbenkian e este vosso Amigo na onda dos bilhetes individuais on line, os penúltimos a poderem ser reservados, procurou em vão concretizar essa oportunidade. O incontornável Augusto José Seabra considerou antecipadamente esse concerto na Gulbenkian como um dos grandes momentos do ano que corre e quando este crítico musical e grande intelectual se pronuncia estou sempre atento. Para 2021, ficou-me reservado Maria João Pires a 6 de dezembro e uns dias mais tarde Arcadi Volodos e já estou de olho na temporada que começa em janeiro de 2022 onde brilha Mitsuko Uchida que já vi na Casa da Música mas que gostaria de ouvir de novo ao vivo.
O ano de 1785 está ligado a um período de forte criatividade de Mozart e à sua instalação em Viena finalmente com algum desafogo financeiro e o seu piano à sua disposição diária em condições que nunca tinha anteriormente experimentado. Leif Ove Andsnes é um pianista simultaneamente muito rigoroso e com uma extrema sensibilidade, sendo nesse aspeto muito pouco nórdico. Os dois concertos para piano da primeira metade do disco, o nº 20 em Ré menor K466 e o nº 21 em Dó maior 466, são um portento de sensibilidade, especialmente o segundo. A segunda parte do disco é mais variada com uma fantasia (em dó menor K475, um quarteto para piano (em Sol menor K478), um momento de música funerária K 477 e o Piano Concerto nº 22 em Mi bemol maior.
Tenho devorado o disco, embora esse prazer não tenha ainda substituído a frustração de não o ter ouvido na Gulbenkian. E o problema é que os jornais portugueses estão perto da indigência musical e não há maneira de encontrar ecos dessa noite de 6 de novembro.
Fragilidades dos tempos de hoje.
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