quarta-feira, 17 de novembro de 2021

AS ENTREVISTAS ― TAKE 1

 

Vamos então às prometidas declinações relativas à presente situação política nacional, i.e., à sua evolução tendo em consideração os dados que conduziram à dissolução da Assembleia da República e tendo em vista as consequentes eleições legislativas antecipadas de 30 de janeiro. A minha tese, digamo-lo assim pomposamente, é a de que todos os principais agentes políticos, e a larga maioria dos analistas e comentadores, estão em estado positivo de negação ― ou seja, sobretudo mobilizados por um incompreensível otimismo assente numa notória contradição entre os seus anseios (mais ou menos legítimos) e as realidades que se afiguram como mais prováveis; quase todos enganados, pois, exceto o desconhecido que a cena final irá contemplar.

 

Depois dos incidentes parlamentares e correlacionados, tivemos as grandes entrevistas dos líderes. Com Costa a dar o pontapé de saída e Rio a segui-lo dois dias depois. Aquele a trazer ao de cima a sua indiscutível habilidade política e a sua completa ausência de encontrar caminhos definidores ― não passa pela cabeça de Costa e dos seus apaniguados (Ana Catarina tem sido, neste plano, abaixo de medíocre) que os portugueses lhe não concedam o reforço da maioria de que dispunha, não passa pela cabeça de Costa que os portugueses possam estar (e até estarão...) fartos da sua presença dominante no espaço público (Marcelo é um caso à parte, como sabemos). Rio, por seu lado, a evidenciar a sua capacidade em direto, naquele mix que lhe é tão próprio entre a força das suas verdades e o basismo quase irritante com que as exprime.


As águas agitaram-se! Que Costa piscou em todas as direções, que Costa fez bluff, que Costa só quer mesmo é a maioria absoluta (como o Bloco de Esquerda, algo incomprovadamente, procurou denunciar) ― a este nível, José Miguel Júdice foi de uma lucidez cristalina. E que, por sua vez, Rio tanto é o estadista do “Portugal primeiro” como um político pequenino que se contenta em ser vice de Costa. Tudo ficou a borbulhar naqueles dias, aguardando possíveis novas clarificações. Que chegaram, em bom número, como explicitarei amanhã.

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