quinta-feira, 18 de novembro de 2021

OURENSE: UMA CENTRALIDADE TEMPORÁRIA?

 

(A alta velocidade na vizinha Galiza vai avançando, não com a rapidez e abrangência territorial que os galegos desejariam (e nós nortenhos também colados a essa calendarização), mas com passos e realizações irreversíveis. Anuncia-se, assim, a chegada efetiva da alta velocidade para 21 de dezembro deste ano, com todo o simbolismo da data. Nas condições técnicas em que o projeto evolui, nesse dia, será a cidade galega de Ourense a protagonizar o fim de linha provisório para as composições que poderão circular na velocidade máxima de 300 kms/hora, aguardando-se que as ligações a Vigo, a Santiago de Compostela, Corunha e Lugo sejam progressivamente concretizadas /adaptadas para que então a alta velocidade nas suas condições máximas possa estender a sua incidência a praticamente todo o sistema urbano galego.

Um investimento infraestrutural de magnitude como o da alta velocidade é um domínio interessante para se discutir o problema da (in) divisibilidade do capital fixo que emerge na Região. Claro que do ponto de vista de toda a Galiza só quando as ligações de Ourense às restantes cidades estiverem plenamente concretizadas é que o investimento poderá atingir o seu impacto máximo. Até lá, a indivisibilidade do equipamento é compensada pela vantagem especial que a cidade de Ourense assumirá no projeto, uma espécie de encruzilhada por que todos os galegos terão que passar para se deslocar a Madrid em alta velocidade. A estimativa conhecida é que a partir de 21 de dezembro, os galegos residentes em Madrid poderão chegar às suas origens em Ourense em duas horas e quinze minutos e os ourensanos terão a mesma duração para chegar a Madrid.

Esta nova centralidade de Ourense insere-se na evolução da rede do transporte ferroviário na Galiza que foi abandonando o peso da centralidade histórica de Monforte. Recordo-me de ter participado num estudo do Eixo Atlântico, através do qual o município de Monforte tentava um último recurso que consistia em transformar Monforte num centro logístico para o interior da Galiza, em diálogo com o porto seco de Salvaterra (o célebre projeto PLISAN) que tem vindo a borregar. Mas a dinâmica da mudança estava lançada e as autoridades nacionais e galegas inclinavam-se claramente para considerar Zamora e não León o ponto de ligação com a rede ferroviária europeia, o que leva á centralidade de Ourense.

Mas nem tudo são rosas neste projeto e tudo se relaciona com o que irá passar-se na estação de Taboadela a cerca de 14 quilómetros de Ourense (onde se realizará a interconexão com as ligações às outras idades, e onde se processarão as mudanças para outro tipo de via, já que esses 14 quilómetros são não permitirão velocidades superiores a 80 Kms.

No fim de contas, uma cidade do interior da Galiza assumirá pelo menos provisoriamente uma elevada centralidade, transformando-se em nó ferroviário de entrada da alta velocidade na Região e proporcionando a Trás-os-Montes uma inicialização de proximidade à ligação para Madrid. Podemos pressupor que essa vantagem será provavelmente pouco duradoura e não suficiente para atrair novas localizações em função dessa nova centralidade. Mas, de qualquer modo, esta vantagem provisória vem confirmar o que alguns analistas do território sempre disseram que, com outras acessibilidades, a centralidade das cidades interiores mas mais próximas das centralidades europeias passam a entrar num outro domínio de possibilidades. Claro que o aproveitamento desse novo campo de possibilidades depende do que se observar em matéria de outras amenidades e das políticas públicas regionais e locais galegas que venham a projetar-se neste novo posicionamento como nó de uma rede de alta velocidade. É apenas um novo campo de possibilidades e, embora mais distantes mas com outros trunfos, Vigo, Santiago de Compostela e a Corunha, depois de resolvidas as suas próprias ligações a Taboadela podem recuperar os seus próprios campos de possibilidades, fazendo valer em seu favor a lógica da procura que as beneficia.

Tudo isto porque uma rede de alta velocidade é para um dado território, neste caso a Galiza, um capital fixo indivisível.

Sem comentários:

Enviar um comentário