(O amigo Alberto Castro tem hoje no Dinheiro Vivo do Diário de Notícias uma crónica que dá conta da divulgação pelo Fórum de Ética da Católica Porto Business School do último relatório do Institute of Business Ethics, que tem a particularidade de refletir de três em três anos o modo como os trabalhadores avaliam as questões ética do universo do seu trabalho. Segundo o Alberto Castro o relatório respeita a casos de 13 países e nesta edição Portugal aparece analisado e bastante mal apreciado.
Independentemente do relatório em si merecer uma análise mais aprofundada que o próprio cronista anuncia para próximas crónicas naquele espaço, ressalta dos dados apresentados o péssimo desempenho dos casos portugueses, com um dado algo paradoxal: os trabalhadores portugueses abrangidos pelos casos estudados não são pecos na avaliação que fazem do comportamento ético dos gestores dessas empresas e simultaneamente são os que denunciam menos casos de violações dessa ética empresarial.
Tem-se instalado o discurso de que as empresas portuguesas padecem de um duplo défice de qualificações, o dos trabalhadores e o dos empresários gestores. A questão das qualificações formais, medido pelo chamado grau de habilitações, é obviamente um indicador que tem de ser mobilizado, mas tal como muitos trabalhadores conseguem pela aprendizagem e pela formação melhorar em termos de competências a sua capacitação face ao seu grau de habilitações, também os empresários-gestores de baixas qualificações o poderiam fazer.
Ouço há anos, mais de duas décadas, este discurso, diria que há tantos anos como se ouve também falar do baixo nível de capitalização ou de autonomia financeira da mediana das empresas portuguesas. E o que me impressiona é a reiterada ausência de soluções para estes dois problemas, sobretudo da parte dos próprios representantes empresariais. É que os principais representantes institucionais dos empresários, alguns nos seus lugares há tanto tempo ou mais do que a presença destes problemas (Ferraz da Costa é o meu alvo de estimação), que são tão reivindicativos em matérias como o acesso a fundos, veja-se a discussão do PRR e de outras situações similares, pouco se ouviram relativamente a estas matérias que tocam as suas próprias insuficiências. Se alguma vez se pronunciaram devem-no ter feito bem baixinho, pois notoriedade seguramente que não tiveram.
Com esta observação mordaz não estou a retirar responsabilidades ao poder político e à governação das políticas pelo facto de também olimpicamente ignorarem estes problemas e continuarem a verter instrumentos sobre as empresas sem a eles atender ou pelo menos a considerarem de antemão as suas consequências sobre os outros instrumentos de política dirigidos às empresas.
Existe nesta matéria um círculo vicioso que é necessário quebrar dê por onde der. Empresários-gestores que não valoram a sua própria formação nunca serão capazes de olhar para a formação dos seus trabalhadores como um investimento que deve ter análise e objetivos de retorno como qualquer outro investimento feito na empresa. Esta situação é particularmente grave nas PME, sobretudo nas mais pequenas, em que é uma lança em África conseguir trazer os trabalhadores à formação. O problema começa em cima. OU seja, não é apenas um problema de qualificações formais. É sobretudo uma questão de atitude em relação aos valores da educação e da formação e nestas está a formalização da própria experiência.
Nota final:
Hoje, no Expresso Economia, Manuel Castro Almeida, que já foi presidente da Câmara Municipal de S. João da Madeira, que passou pelos quadros da CCDRN e foi Secretário de Estado do Desenvolvimento Regional com responsabilidade de lançamento do Portugal 2020 no Governo de Passos Coelho, vem com a mesma ladainha de que pelo 1/3 do PT 2030 terá que se destinar às empresas. Com um mínimo de rigor que lhe era exigido poderia ter acrescentado para incauto leitor compreender que o tipo de fundos a que se refere o então Secretário de Estado são abrangidos por condicionantes impostas por Bruxelas que obrigam que tais fundos devam representar percentagens mínimas que são elevadas.
E para quem tem memória como eu, ainda, conviria recordar que não me lembro de tanta inépcia e desorientação no lançamento da programação como aquela que acompanhou a dupla Poiares Maduro-Castro Almeida no lançamento do período de programação 2014-2020. Portanto, dispensar-se-ia tanta pose e prosápia, sobretudo vindo de gente que já mexeu em idêntica massa e cujo bolo que daí resultou não se recomendava a um bom apreciador.
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