terça-feira, 30 de janeiro de 2018

ASCO, SIMPLESMENTE ASCO




(Asco é a palavra exata para descrever toda esta questão em torno dos bilhetes de Centeno para o futebol, misturando coisas que só ofuscam a suspeição que paira sobre o futebol. É tempo de cortar a direito e melhorar a qualidade do ar.)

Não tenho dúvidas de que há demasiada proximidade entre política e futebol. É hoje praticamente impossível perceber quem se aproximou de quem. Se foi a política que se aproximou do futebol, para aí encontrar um amparo de popularidade. Ou se foi antes o futebol que capturou a política para nela encontrar uma fonte de impunidade. Não arrisco um vaticínio e aqui nem há fim de jogo para facilitar o prognóstico.

Nos últimos tempos, com o mercado de transferências a atingir valores astronómicos e aparentemente inexplicáveis, basta tipificarmos alguns plantéis que resultam desse troca e troca para compreender que haverá interesses demais à solta. Só esses interesses podem explicar a não racionalidade de algumas compras e vendas.

Para além disso, o futebol está cheio de gabirus e personagens-cromos que só existem enquanto o futebol lhes dá palco. Mas ainda mais estranha e perigosa é a proximidade que existe entre o futebol e membros da justiça em geral. Em todas as controvérsias disciplinares e de outra natureza de que o futebol está cheio encontramos sempre um juiz, desembargador ou não, que anima decisões e debates e que procura dar racionalidade legal às mais obtusas decisões. O juiz Rui Rangel, embora circule pelas hostes do meu SLB, não cumpre exatamente o que entendo dever ser o recato de um homem da justiça e a sua sede de protagonismo mediático-futebolístico sempre me inspirou desconfiança. E já agora, sem conflito de interesses de qualquer espécie, embora reconheça alguma obra ao timoneiro do SLB nos últimos anos, acho que Luís Filipe Vieira não é propriamente alguém como gostaria que comandasse as hostes do clube.

Hoje, os jornais e comunicação social em social dão conta de uma mega operação anticorrupção que terá ramificações com processos de fraude e evasão fiscal e possível branqueamento de capitais que coloca Rangel no centro do furação e que pelos vistos tocou em LFV. É-me completamente indiferente que haja fogo ou simplesmente fumo e só espero que tal como noutras operações a justiça portuguesa não se enrede na mais profunda obscuridade do direito processual e em labirintos jurídicos. Um clube de origem operária como o SLB tem que estar acima de todos os figurões que o utilizam para singrar na vida sem competência e recursos para tal. O mesmo se diga em relação a outras acusações dirigidas ao clube na guerra nojenta das redes sociais e dos assessores de comunicação.

Mas confundir isto tudo com uma pretensa corrupção associada à ida à bola de Mário Centeno e filho ao Estádio da Luz, a pedido destes suponho, é simplesmente ridículo. A imprensa tipo Correio da Manhã emerge nestes casos na sua mais pura indigência. Asco, simplesmente asco, é o que me sugere toda esta confusão de suspeições. Será que o ministro foi imprudente, mesmo sabendo que é sócio e que só pretendia ir à bola como outros e garantir condições mínimas e protocolares de segurança? Será que a imprudência advém de todo o contexto em que a situação económica e financeira do timoneiro LFV traz ao caso? Mesmo admitindo que tenho dúvidas se não pensaria duas vezes ao decidir pelo sofá de lá de casa ou ir ao camarote presidencial, a confusão entre a dimensão deste caso e a profundidade dos salpicos de lama de todos os outros casos é revoltante, tamanha é a carga populista, aparentemente sem populistas confessos, que vai grassando por aí. A justiça portuguesa tem aqui uma rara oportunidade de devolver as proporções certas a toda esta bandalheira.

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