(Asco é a palavra exata para descrever toda esta questão em
torno dos bilhetes de Centeno para o futebol, misturando coisas que só ofuscam
a suspeição que paira sobre o futebol. É tempo de cortar a direito e
melhorar a qualidade do ar.)
Não tenho dúvidas de que há demasiada proximidade entre política e futebol.
É hoje praticamente impossível perceber quem se aproximou de quem. Se foi a política
que se aproximou do futebol, para aí encontrar um amparo de popularidade. Ou se
foi antes o futebol que capturou a política para nela encontrar uma fonte de
impunidade. Não arrisco um vaticínio e aqui nem há fim de jogo para facilitar o
prognóstico.
Nos últimos tempos, com o mercado de transferências a atingir valores
astronómicos e aparentemente inexplicáveis, basta tipificarmos alguns plantéis
que resultam desse troca e troca para compreender que haverá interesses demais à
solta. Só esses interesses podem explicar a não racionalidade de algumas compras
e vendas.
Para além disso, o futebol está cheio de gabirus e personagens-cromos que só
existem enquanto o futebol lhes dá palco. Mas ainda mais estranha e perigosa é
a proximidade que existe entre o futebol e membros da justiça em geral. Em
todas as controvérsias disciplinares e de outra natureza de que o futebol está
cheio encontramos sempre um juiz, desembargador ou não, que anima decisões e
debates e que procura dar racionalidade legal às mais obtusas decisões. O juiz Rui
Rangel, embora circule pelas hostes do meu SLB, não cumpre exatamente o que
entendo dever ser o recato de um homem da justiça e a sua sede de protagonismo
mediático-futebolístico sempre me inspirou desconfiança. E já agora, sem conflito
de interesses de qualquer espécie, embora reconheça alguma obra ao timoneiro do
SLB nos últimos anos, acho que Luís Filipe Vieira não é propriamente alguém como
gostaria que comandasse as hostes do clube.
Hoje, os jornais e comunicação social em social dão conta de uma mega
operação anticorrupção que terá ramificações com processos de fraude e evasão
fiscal e possível branqueamento de capitais que coloca Rangel no centro do
furação e que pelos vistos tocou em LFV. É-me completamente indiferente que
haja fogo ou simplesmente fumo e só espero que tal como noutras operações a
justiça portuguesa não se enrede na mais profunda obscuridade do direito
processual e em labirintos jurídicos. Um clube de origem operária como o SLB
tem que estar acima de todos os figurões que o utilizam para singrar na vida
sem competência e recursos para tal. O mesmo se diga em relação a outras acusações
dirigidas ao clube na guerra nojenta das redes sociais e dos assessores de
comunicação.
Mas confundir isto tudo com uma pretensa corrupção associada à ida à bola
de Mário Centeno e filho ao Estádio da Luz, a pedido destes suponho, é
simplesmente ridículo. A imprensa tipo Correio da Manhã emerge nestes casos na
sua mais pura indigência. Asco, simplesmente asco, é o que me sugere toda esta
confusão de suspeições. Será que o ministro foi imprudente, mesmo sabendo que é
sócio e que só pretendia ir à bola como outros e garantir condições mínimas e
protocolares de segurança? Será que a imprudência advém de todo o contexto em
que a situação económica e financeira do timoneiro LFV traz ao caso? Mesmo
admitindo que tenho dúvidas se não pensaria duas vezes ao decidir pelo sofá de
lá de casa ou ir ao camarote presidencial, a confusão entre a dimensão deste caso
e a profundidade dos salpicos de lama de todos os outros casos é revoltante, tamanha
é a carga populista, aparentemente sem populistas confessos, que vai grassando
por aí. A justiça portuguesa tem aqui uma rara oportunidade de devolver as proporções
certas a toda esta bandalheira.
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