(Matt Rotta)
(Imagino que o artigo de opinião do Nobel de Economia Angus
Deaton no New York Times tenha sido um murro no estômago de muitos americanos. É
que a pobreza absoluta já deixou há muito de ser um flagelo exclusivo dos países
mais pobres e frágeis.)
Angus Deaton publica um artigo corajoso no New York Times (link aqui). Ele chama a atenção
para o facto da pobreza absoluta ter deixado de ser uma marca exclusiva da vulnerabilidade
e fragilidade dos países de mais baixo rendimento per capita. Tem havido progressos assinaláveis nas estimativas de
linhas de pobreza absoluta, abaixo das quais se pensa que a privação é lesiva
de uma vida condigna. Existem duas modalidades de linhas de pobreza absoluta: (i)
as que não têm em conta as diferenças de necessidades e de tipologias de carências
básicas entre sociedades desenvolvidas e sociedades mais pobres e que se
limitam a respeitar a paridade de poderes de compra; (ii) as que ponderam essas
diferenças e calculam linhas de pobreza absoluta ajustadas.
No primeiro tipo, o último número conhecido trabalha com o valor de 1,90 dólares
por dia e estima a existência de 769 milhões de pessoas a viver abaixo do
limiar de pobreza absoluta – 3,2 milhões vivem nos EUA.
No segundo tipo, um valor muito divulgado é o de 4 dólares/ dia nos EUA e 1,90
dólares na Índia. Com este referencial, viverão nos EUA 5,3 milhões de indivíduos
que podem ser considerados pobres em termos absolutos.
Deaton e a sua mulher Anne Case têm vincado o drama trágico de uma massa
imensa de indivíduos com rendimentos que não ultrapassam os 2 dólares dia. Nessa
investigação conjunta, ressalta as implicações fortíssimas que essa privação provoca
nas condições de saúde, com reflexo nas condições de morbilidade de indivíduos brancos,
por via das drogas, do álcool e do suicídio precoce.
Uma América oculta emerge da investigação de Deaton e Case. Em meu entender
a globalização, paradoxalmente, reduziu substancialmente a pobreza absoluta entre algumas economias emergentes e disseminou -a entre grupos sociais mais frágeis
e vulneráveis nas sociedades avançadas.
(Corrigido em 26.01.2018 às 08.12)
(Corrigido em 26.01.2018 às 08.12)
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