(Os primeiros
estudos sobre a distribuição do rendimento a nível mundial, liderados por Blanko
Milanovic e Christoph Lakner, geraram para o período 1980-2008 uma das mais
divulgadas curvas económicas dos últimos tempos – a curva Elefante. Os estudos da equipa de Piketty, Saez, Alvaredo
e outros, com informação que vai até 2016, sugerem uma zoologia diversa, remetendo
para o Jurássico Superior. Estranho?)
Na sua comunicação com o exterior, os economistas pelam-se por curvas-regularidades.
Assim foi quando os primeiros estudos sobre a distribuição do rendimento a nível
mundial analisaram em 20 anos, da queda do muro de Berlim à crise de 2007-2008,
o comportamento dinâmico dos diferentes níveis de rendimento, independentemente
do país a que se pertence. Na curva abaixo, a chamada curva Elefante original
(link para este blogue), os rendimentos medianos do mundo cresceram entre 10 e
cerca de 70%. Os ventos positivos que vinham do dorso do paquiderme anunciavam
que, embora os mais pobres tenham crescido pouco e o crescimento dos mais ricos
(a ponta da tromba) se revelasse escandaloso, havia classes médias emergentes
nas economias também emergentes que melhoravam a sua posição e davam um tom de
esperança à democracia futura. Mas na curva Elefante era já visível a perda
pronunciada de rendimento das classes médias do ocidente maduro, que o populismo
de Trump tão eficazmente capitalizou.
Milanovic iniciou o processo mas foi a equipa transatlântica de Piketty,
Alvaredo, Saez, Zucman e companhia que marcaram recentemente o debate com as
suas novas pesquisas. A primeira edição do já aqui referido World Inequality
Report mostra a importância dessa nova fase de trabalho. Essas pesquisas
trouxeram novas fontes de informação à análise da distribuição de rendimento. Dos
frágeis inquéritos às famílias à mobilização da informação fiscal ganhou-se em
consistência, o que não significa terem desaparecido as limitações de bases de
informação.
Havia curiosidade em saber o que se teria passado após 2008. Pois os dados
agora trabalhados vão até 2016 e permitem segmentar a tromba do elefante (o 1%
mais rico) em microgrupos de ricos. A imagem gráfica que resulta dos novos
dados afasta o elefante e sugere um Brontossauro, do Jurássico Superior. Agora,
já não é mediana da população mundial que viu melhorado seu rendimento. É bem
menos do que isso e anda pelos 20-30% mais pobres que conseguiram ver a sua situação
melhorada. Alongam-se os grupos que viram a sua situação deteriorar-se e a
tromba dos mais ricos alonga-se com significado. Assim, o percentil 99,99
cresce mais que o percentil 99,9 e este mais do que o 99.
A partir desta passagem ao Jurássico nada de muito conclusivo emerge. Mas há
hipóteses e pistas de trabalho que não podem ser ignoradas. Duas merecem a
nossa atenção futura. A primeira aconselha modéstia e prudência aos
economistas. Justin Sandefur do Center for Global Development em Washington sublinha
essa importância (link aqui). A não homogeneidade entre as fontes de informação
da curva Elefante e do Brontossauro é óbvia e sugere cautelas. A segunda exige
maior desenvolvimento: a força desigual do topo dos 1% mais ricos e seus
segmentos parece poder anular a melhoria que vinha sendo observada nas
economias emergentes com significado mundial. Se assim for teremos más notícias
para a globalização.
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