quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

DO ELEFANTE AO BRONTOSSAURO




(Os primeiros estudos sobre a distribuição do rendimento a nível mundial, liderados por Blanko Milanovic e Christoph Lakner, geraram para o período 1980-2008 uma das mais divulgadas curvas económicas dos últimos tempos – a curva Elefante. Os estudos da equipa de Piketty, Saez, Alvaredo e outros, com informação que vai até 2016, sugerem uma zoologia diversa, remetendo para o Jurássico Superior. Estranho?)

Na sua comunicação com o exterior, os economistas pelam-se por curvas-regularidades. Assim foi quando os primeiros estudos sobre a distribuição do rendimento a nível mundial analisaram em 20 anos, da queda do muro de Berlim à crise de 2007-2008, o comportamento dinâmico dos diferentes níveis de rendimento, independentemente do país a que se pertence. Na curva abaixo, a chamada curva Elefante original (link para este blogue), os rendimentos medianos do mundo cresceram entre 10 e cerca de 70%. Os ventos positivos que vinham do dorso do paquiderme anunciavam que, embora os mais pobres tenham crescido pouco e o crescimento dos mais ricos (a ponta da tromba) se revelasse escandaloso, havia classes médias emergentes nas economias também emergentes que melhoravam a sua posição e davam um tom de esperança à democracia futura. Mas na curva Elefante era já visível a perda pronunciada de rendimento das classes médias do ocidente maduro, que o populismo de Trump tão eficazmente capitalizou.

Milanovic iniciou o processo mas foi a equipa transatlântica de Piketty, Alvaredo, Saez, Zucman e companhia que marcaram recentemente o debate com as suas novas pesquisas. A primeira edição do já aqui referido World Inequality Report mostra a importância dessa nova fase de trabalho. Essas pesquisas trouxeram novas fontes de informação à análise da distribuição de rendimento. Dos frágeis inquéritos às famílias à mobilização da informação fiscal ganhou-se em consistência, o que não significa terem desaparecido as limitações de bases de informação.


Havia curiosidade em saber o que se teria passado após 2008. Pois os dados agora trabalhados vão até 2016 e permitem segmentar a tromba do elefante (o 1% mais rico) em microgrupos de ricos. A imagem gráfica que resulta dos novos dados afasta o elefante e sugere um Brontossauro, do Jurássico Superior. Agora, já não é mediana da população mundial que viu melhorado seu rendimento. É bem menos do que isso e anda pelos 20-30%  mais pobres que conseguiram ver a sua situação melhorada. Alongam-se os grupos que viram a sua situação deteriorar-se e a tromba dos mais ricos alonga-se com significado. Assim, o percentil 99,99 cresce mais que o percentil 99,9 e este mais do que o 99.

A partir desta passagem ao Jurássico nada de muito conclusivo emerge. Mas há hipóteses e pistas de trabalho que não podem ser ignoradas. Duas merecem a nossa atenção futura. A primeira aconselha modéstia e prudência aos economistas. Justin Sandefur do Center for Global Development em Washington sublinha essa importância (link aqui). A não homogeneidade entre as fontes de informação da curva Elefante e do Brontossauro é óbvia e sugere cautelas. A segunda exige maior desenvolvimento: a força desigual do topo dos 1% mais ricos e seus segmentos parece poder anular a melhoria que vinha sendo observada nas economias emergentes com significado mundial. Se assim for teremos más notícias para a globalização.

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