(O mundo económico mais sensato não esconde a preocupação
pelos riscos de uma guerra comercial gerada pelas maléficas tontarias de Trump.
O problema é que a possibilidade de evitar uma guerra comercial depende de uma
decisão política de grande envergadura, que não é para muitos: retaliar ou não
retaliar? A lucidez de Dani Rodrik e toda a sua obra ajudam-nos a
compreender a envergadura dessa decisão.)
Os livros de
economia ajudam-nos a captar um argumento básico. Decisões tontas como as de Trump
em matéria de política comercial externa, isto é, de imposições de direitos
aduaneiros às importações de determinados conjuntos de bens, só provocam guerras
comerciais abertas se as retaliações proliferarem. Sabemos ainda que em matéria
de inícios de guerras comerciais há quem ganhe e quem perca no contexto de cada
país (e essa avaliação não é indiferente para se compreender as decisões políticas
tomadas). Quando a guerra se instala o mais provável é que todos percam no fim
dos complexos processos dinâmicos que uma operação dessa natureza tenderá a provocar.
No caso da alarvidade
de Trump, a economia mundial está suspensa da firmeza com que a Europa e a
China assumirão ou não como alternativa à retaliação global um projeto de defesa
das condições de livre comércio em condições equilibradas para os dois blocos
económicos. Dani Rodrik, no Project Syndicate (link aqui), tem razão em puxar por essa possibilidade
como a via mais segura para combater aquilo que Trump precisa para justificar
as suas alarvidades económicas. Mas não daria totalmente por seguro que os
dirigentes políticos europeus e chineses, a pensar nos seus eleitorados, não
enveredem pela tentação da retaliação.
Ainda assim,
é fundamental trazer para a nossa discussão ideias sólidas que a teoria económica
nos proporciona. A elite económica tem sido radicalmente ignorada pelos arautos
do populismo económico, que buscam argumentos mais diretos para prosseguir os
seus objetivos mais profundos.
A primeira
ideia é a de que o protecionismo económico não é a melhor via para defender os
interesses dos trabalhadores e dos mais desfavorecidos atingidos por injustiças
associadas ao livre-câmbio mal regulado. O protecionismo económico e uma guerra
comercial servem como uma luva aos fanfarrões da política, mais interessados na
mistificação do que num debate sério dos argumentos económicos. Os promotores e
guerras comerciais são, por exemplo, os que mais desprezam o reforço da sindicalização
na economia. Qualquer reforça da globalização não pode ignorar essa dimensão da
proteção do mundo do trabalho, mas não é por via da guerra comercial que essa
proteção se concretiza.
A segunda
ideia resulta de um valioso artigo de Dani Rodrik publicado primeiro, em 1996,
no NBER e depois, em 1998, no Journal of Political Economy de outubro: “Why
do More Open Economies Have Bigger Governments?”(link aqui). Ao contrário do que
poderia soar a intuição, os países mais abertos não são aqueles que apresentam
rácios mais baixos de despesa pública no PIB. Antes pelo contrário, apresentam,
controlado por outras variáveis, rácios mais elevados. A moral da história é simples.
Assumir a abertura na economia mundial significa a necessidade de confortáveis
níveis de proteção, designadamente social. Tal como o Nobel Shiller o
compreendeu bem (link aqui), o reforço da globalização é indissociável de maior investimento
e criatividade na proteção e segurança de trabalhadores.
Se tivéssemos
compreendido estas mensagens simples e fundamentadas, não estaríamos hoje a carpir
mágoas pelo desvio de voto das classes trabalhadoras para forças populistas e
alarves como as do governo de Trump e seus apaniguados. É que os custos que serão
necessários para que o mundo do trabalho compreenda que o protecionismo económico
não é um sucedâneo dos mecanismos de segurança social são demasiado elevados para
assistirmos de novo ao regresso ao voto mais lúcido.
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