quarta-feira, 18 de julho de 2018

ESTÁ A GUERRA COMERCIAL POR UM FIO?



(O mundo económico mais sensato não esconde a preocupação pelos riscos de uma guerra comercial gerada pelas maléficas tontarias de Trump. O problema é que a possibilidade de evitar uma guerra comercial depende de uma decisão política de grande envergadura, que não é para muitos: retaliar ou não retaliar? A lucidez de Dani Rodrik e toda a sua obra ajudam-nos a compreender a envergadura dessa decisão.)

Os livros de economia ajudam-nos a captar um argumento básico. Decisões tontas como as de Trump em matéria de política comercial externa, isto é, de imposições de direitos aduaneiros às importações de determinados conjuntos de bens, só provocam guerras comerciais abertas se as retaliações proliferarem. Sabemos ainda que em matéria de inícios de guerras comerciais há quem ganhe e quem perca no contexto de cada país (e essa avaliação não é indiferente para se compreender as decisões políticas tomadas). Quando a guerra se instala o mais provável é que todos percam no fim dos complexos processos dinâmicos que uma operação dessa natureza tenderá a provocar.

No caso da alarvidade de Trump, a economia mundial está suspensa da firmeza com que a Europa e a China assumirão ou não como alternativa à retaliação global um projeto de defesa das condições de livre comércio em condições equilibradas para os dois blocos económicos. Dani Rodrik, no Project Syndicate (link aqui), tem razão em puxar por essa possibilidade como a via mais segura para combater aquilo que Trump precisa para justificar as suas alarvidades económicas. Mas não daria totalmente por seguro que os dirigentes políticos europeus e chineses, a pensar nos seus eleitorados, não enveredem pela tentação da retaliação.

Ainda assim, é fundamental trazer para a nossa discussão ideias sólidas que a teoria económica nos proporciona. A elite económica tem sido radicalmente ignorada pelos arautos do populismo económico, que buscam argumentos mais diretos para prosseguir os seus objetivos mais profundos.

A primeira ideia é a de que o protecionismo económico não é a melhor via para defender os interesses dos trabalhadores e dos mais desfavorecidos atingidos por injustiças associadas ao livre-câmbio mal regulado. O protecionismo económico e uma guerra comercial servem como uma luva aos fanfarrões da política, mais interessados na mistificação do que num debate sério dos argumentos económicos. Os promotores e guerras comerciais são, por exemplo, os que mais desprezam o reforço da sindicalização na economia. Qualquer reforça da globalização não pode ignorar essa dimensão da proteção do mundo do trabalho, mas não é por via da guerra comercial que essa proteção se concretiza.

A segunda ideia resulta de um valioso artigo de Dani Rodrik publicado primeiro, em 1996, no NBER e depois, em 1998, no Journal of Political Economy de outubro: “Why do More Open Economies Have Bigger Governments?”(link aqui). Ao contrário do que poderia soar a intuição, os países mais abertos não são aqueles que apresentam rácios mais baixos de despesa pública no PIB. Antes pelo contrário, apresentam, controlado por outras variáveis, rácios mais elevados. A moral da história é simples. Assumir a abertura na economia mundial significa a necessidade de confortáveis níveis de proteção, designadamente social. Tal como o Nobel Shiller o compreendeu bem (link aqui), o reforço da globalização é indissociável de maior investimento e criatividade na proteção e segurança de trabalhadores.

Se tivéssemos compreendido estas mensagens simples e fundamentadas, não estaríamos hoje a carpir mágoas pelo desvio de voto das classes trabalhadoras para forças populistas e alarves como as do governo de Trump e seus apaniguados. É que os custos que serão necessários para que o mundo do trabalho compreenda que o protecionismo económico não é um sucedâneo dos mecanismos de segurança social são demasiado elevados para assistirmos de novo ao regresso ao voto mais lúcido.

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