(Não, não se trata de antecipar ameaças à solidez da geringonça.
Trata-se apenas de reconhecer, sosseguem, para a economia americana, que a
redução da diferença entre a rendibilidade dos títulos a 10 anos e dos títulos
a curto prazo anunciou no passado recente a ocorrência de recessões.
Se a profecia continuar a ser verdadeira, vai dar-me um certo gozo observar como
Trumpe suas tropas vão gerir a hipótese de uma recessão.)
Quando o sempre perspicaz
Ryan Avent escreve no Economist (link aqui), vale a pena parar para pensar. Avent é
daqueles que não escreve à toa. Entre os economistas que escrevem para grandes
tiragens como a da revista inglesa, é dos mais sábios e que pensa não por modas
mas em função de uma real capacidade de pensar as situações a que se refere.
O gráfico em torno do
qual o artigo é organizado dá que pensar. Sabemos que em economia não há
determinismos. Sabemos ainda que o contexto das crises nunca é o mesmo, salvo
raríssimas exceções. A chama “yield curve” invertida, como se manifestou nos três
períodos de que o gráfico acima se ocupa, traduz simplesmente que a diferença
entre a rendibilidade dos títulos a 10 anos e de curto prazo se reduz, a ponto
de em situações excecionais essa diferença poder inclusivamente tornar-se
negativa. O que sabemos é que as taxas de curto prazo refletem as condições da
política monetária e sobretudo as taxas de referência impostas pelo Banco
Central. As taxas de longo prazo refletem pelo contrário o preço da incerteza
futura e quando são muito baixas como sucede hoje isso significa que a
incerteza está instalada. De qualquer modo, o valor da taxa de longo prazo
sugere que a inflação permanecerá relativamente baixa no futuro e que não são
antecipadas subidas de preços relevantes.
É importante reafirmar
que um gráfico não suporta um determinismo de qualquer natureza. Mas mesmo
tendo em conta que a descida da curva antes de 2007-2008 se apresentou mais rápida
do que a observada no tempo mais recente, não deixa de ser surpreendente o comportamento
da curva antes dos períodos recessivos. Os Presidentes dos Bancos Centrais
costumam desvalorizar as ameaças em regra associadas à Yield Curve invertida. Assim
aconteceu com Ben Bernanke e assim também Jay Powell, o atual Presidente do FED
se pronunciou nesse sentido. O que parece indesmentível é que o longo prazo da
economia americana surge minado por uma elevada incerteza. Não deixa de ser
paradoxal que a tão voluntarista política económica do plutocrata Trump não
faça nada, antes a agrave, por essa incerteza de longo prazo.
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