domingo, 29 de julho de 2018

VEM AÍ UMA RECESSÃO?



(Não, não se trata de antecipar ameaças à solidez da geringonça. Trata-se apenas de reconhecer, sosseguem, para a economia americana, que a redução da diferença entre a rendibilidade dos títulos a 10 anos e dos títulos a curto prazo anunciou no passado recente a ocorrência de recessões. Se a profecia continuar a ser verdadeira, vai dar-me um certo gozo observar como Trumpe suas tropas vão gerir a hipótese de uma recessão.)

Quando o sempre perspicaz Ryan Avent escreve no Economist (link aqui), vale a pena parar para pensar. Avent é daqueles que não escreve à toa. Entre os economistas que escrevem para grandes tiragens como a da revista inglesa, é dos mais sábios e que pensa não por modas mas em função de uma real capacidade de pensar as situações a que se refere.

O gráfico em torno do qual o artigo é organizado dá que pensar. Sabemos que em economia não há determinismos. Sabemos ainda que o contexto das crises nunca é o mesmo, salvo raríssimas exceções. A chama “yield curve” invertida, como se manifestou nos três períodos de que o gráfico acima se ocupa, traduz simplesmente que a diferença entre a rendibilidade dos títulos a 10 anos e de curto prazo se reduz, a ponto de em situações excecionais essa diferença poder inclusivamente tornar-se negativa. O que sabemos é que as taxas de curto prazo refletem as condições da política monetária e sobretudo as taxas de referência impostas pelo Banco Central. As taxas de longo prazo refletem pelo contrário o preço da incerteza futura e quando são muito baixas como sucede hoje isso significa que a incerteza está instalada. De qualquer modo, o valor da taxa de longo prazo sugere que a inflação permanecerá relativamente baixa no futuro e que não são antecipadas subidas de preços relevantes.

É importante reafirmar que um gráfico não suporta um determinismo de qualquer natureza. Mas mesmo tendo em conta que a descida da curva antes de 2007-2008 se apresentou mais rápida do que a observada no tempo mais recente, não deixa de ser surpreendente o comportamento da curva antes dos períodos recessivos. Os Presidentes dos Bancos Centrais costumam desvalorizar as ameaças em regra associadas à Yield Curve invertida. Assim aconteceu com Ben Bernanke e assim também Jay Powell, o atual Presidente do FED se pronunciou nesse sentido. O que parece indesmentível é que o longo prazo da economia americana surge minado por uma elevada incerteza. Não deixa de ser paradoxal que a tão voluntarista política económica do plutocrata Trump não faça nada, antes a agrave, por essa incerteza de longo prazo.

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