sexta-feira, 13 de julho de 2018

O APELO DE VIANA

(Rui Caeiro)

(Em tempos em que estava mais frequentemente por Caminha, a pulsão natural apontava para Vigo, não para Viana do Castelo. Ultimamente, a pulsão tem-se invertido, puxando mais para Viana. Prolongamento de reflexões estivais.)

De facto nunca entendi a pulsão do passado que puxava mais para Vigo e menos para Viana. Reflexos do apelo da dimensão urbana, da cidade maior, vá lá saber-se porquê. Mas tão naturalmente como o passado puxava para norte, nos últimos tempos tem puxado mais para Viana. Ainda bem, porque a cidade está um brinco, honra seja feita a um dos mais esforçados autarcas deste país, José Maria Costa (que futuro político para este homem de bem após o seu último mandato autárquico?).

A Taberna do Valentim é sem dúvida uma das justificações para a inversão da atração. Gosto de jantar neste restaurante despretensioso, amável, de muito bom peixe, agora com um Largo da Feira, mesmo em frente, alindado e dando ao local uma sensação de dimensão e área como nunca teve. Muita gente do Norte, loura, branca, encantada com o local e assim se faz o verão minhoto.

Oportunidade para uma passagem pela Feira do Livro com o prédio do Coutinho, expectante, a acolhê-la (não seria mais interessante e sugestivo manter a imagem da infração e do mau urbanismo do que destruir tal silhueta?). E nestes encontros casuais com os livros há sempre uma surpresa à nossa espera, neste caso a livraria SNOB com três preciosidades: uma dupla edição de Rui Caeiro (DIÁLOGOS MARADOS e UM MALUCO VEM POUSAR-ME NA MÃO) DE 2017 e 2018, três inéditos do mesmo autor (Uma recordação da infância, Uma recordação da adolescência e um Pesadelo pós moderno) e uma coletânea de textinhos e intróitos de Vítor Silva Tavares (onde para a minha coleção do ETC?). Preciosidades para uma noite diferente.

E, por fim, após a subida pelas ruas cuidadas do Centro Histórico, alguns minutos na pracinha central com o Wines&Blues Festival, que poderia ter mais produtores, mas que cumpre a sua função para uma noite de verão.

A animação estival de uma cidade tolhida pelo declínio demográfico da sua envolvente é difícil? É-o de facto, mas com persistência lá se vai fazendo a diferença.

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