sábado, 28 de julho de 2018

A CIÊNCIA PORTUGUESA



(Foi uma semana particularmente estimulante para a ciência portuguesa. Mas a relação entre a ciência e as universidades atravessa alguma turbulência, dado o impasse em que a questão dos precários científicos mergulhou.)

Temos de convir que, para o nível de desenvolvimento económico do país, a ciência portuguesa apresenta uma expressão mais do que proporcional a esse nível de desenvolvimento. Por outras palavras, considerando uma relação entre nível científico e desenvolvimento económico, a expressão deste último em Portugal determinaria um nível científico inferior ao que efetivamente os nossos investigadores e cientistas evidenciam no plano comparativo mundial.

Esta semana, a ciência portuguesa teve uma notoriedade que corresponde à sua excelência. Uma equipa de investigadores da Universidade de Coimbra acaba de publicar na Nature uma investigação que rompe com as conclusões no Nobel na área da química Marcus e outra equipa portuguesa na área da astrofísica surge integrada no vasto grupo que, pelo que consegui compreender, logrou demonstrar que Einstein tinha razão, trabalhando arduamente os resultados da observação de fenómenos na nossa única galáxia. São níveis de notoriedade com que diariamente e talvez com menos visibilidade outros cientistas, jovens e mais maduros, afirmam a sua representatividade em equipas autónomas e também inseridas nas grandes redes internacionais.

Esta notoriedade e valia intrínseca coloca de novo a questão se é possível e desejável que um país de pequena dimensão como Portugal deva aspirar, e consequentemente alocar recursos públicos, ao nível e diversidade de investigação fundamental de que todos os dias ouvimos falar. Há quem defenda que um país de pequena dimensão como Portugal não terá nunca boas condições de exploração e desenvolvimento de investigação fundamental, com a qualidade com que a produzimos em Portugal. Assim sendo, deverá alocar essencialmente fundos a ciência cuja translação de conhecimento para a atividade empresarial e produtiva seja potencialmente mais elevada.

Nestas matérias, defendo intransigentemente a necessidade de aumentar os níveis de translação da investigação científica para a atividade empresarial. Porém, dada a valiosa capacidade científica nacional, é importante que a sociedade portuguesa se pronuncie sobre a massa de recursos públicos que está disposta a alocar à investigação científica que não tem translação imediata para a atividade empresarial. Tudo depende do escrutínio democrático das opções nacionais assumidas. O país também pode valorizar-se pelo campo da investigação fundamental, como esta semana o demonstrou cabalmente.

E é nesse contexto que fico chocado com a indigência política e universitária com que tem sido tratado o tema dos precários (bolseiros) científicos. O jogo de sombras que se estabeleceu entre a Assembleia da República, o Governo e as Universidades (Quo Vadis autonomia universitária?) coloca os bolseiros numa situação injusta e desprotegida. A situação é o resultado de muita gente falar na e da ciência portuguesa mas não sermos capazes de assumir qual é a dimensão real do compromisso que pretendemos assumir.

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