(Foi uma semana particularmente estimulante para a ciência
portuguesa. Mas a relação entre a ciência e as universidades atravessa
alguma turbulência, dado o impasse em que a questão dos precários científicos
mergulhou.)
Temos de convir que,
para o nível de desenvolvimento económico do país, a ciência portuguesa
apresenta uma expressão mais do que proporcional a esse nível de desenvolvimento.
Por outras palavras, considerando uma relação entre nível científico e
desenvolvimento económico, a expressão deste último em Portugal determinaria um
nível científico inferior ao que efetivamente os nossos investigadores e
cientistas evidenciam no plano comparativo mundial.
Esta semana, a ciência
portuguesa teve uma notoriedade que corresponde à sua excelência. Uma equipa de
investigadores da Universidade de Coimbra acaba de publicar na Nature uma investigação que rompe com as
conclusões no Nobel na área da química Marcus e outra equipa portuguesa na área
da astrofísica surge integrada no vasto grupo que, pelo que consegui
compreender, logrou demonstrar que Einstein tinha razão, trabalhando arduamente
os resultados da observação de fenómenos na nossa única galáxia. São níveis de notoriedade
com que diariamente e talvez com menos visibilidade outros cientistas, jovens e
mais maduros, afirmam a sua representatividade em equipas autónomas e também
inseridas nas grandes redes internacionais.
Esta notoriedade e valia
intrínseca coloca de novo a questão se é possível e desejável que um país de
pequena dimensão como Portugal deva aspirar, e consequentemente alocar recursos
públicos, ao nível e diversidade de investigação fundamental de que todos os
dias ouvimos falar. Há quem defenda que um país de pequena dimensão como
Portugal não terá nunca boas condições de exploração e desenvolvimento de
investigação fundamental, com a qualidade com que a produzimos em Portugal. Assim
sendo, deverá alocar essencialmente fundos a ciência cuja translação de conhecimento
para a atividade empresarial e produtiva seja potencialmente mais elevada.
Nestas matérias, defendo
intransigentemente a necessidade de aumentar os níveis de translação da
investigação científica para a atividade empresarial. Porém, dada a valiosa
capacidade científica nacional, é importante que a sociedade portuguesa se
pronuncie sobre a massa de recursos públicos que está disposta a alocar à
investigação científica que não tem translação imediata para a atividade empresarial.
Tudo depende do escrutínio democrático das opções nacionais assumidas. O país
também pode valorizar-se pelo campo da investigação fundamental, como esta semana
o demonstrou cabalmente.
E é nesse contexto que
fico chocado com a indigência política e universitária com que tem sido tratado
o tema dos precários (bolseiros) científicos. O jogo de sombras que se estabeleceu
entre a Assembleia da República, o Governo e as Universidades (Quo Vadis
autonomia universitária?) coloca os bolseiros numa situação injusta e desprotegida.
A situação é o resultado de muita gente falar na e da ciência portuguesa mas não
sermos capazes de assumir qual é a dimensão real do compromisso que pretendemos
assumir.
Sem comentários:
Enviar um comentário