sexta-feira, 6 de julho de 2018

ECOS DE UM DEBATE QUE VALEU A PENA



(Não queria deixar de assinalar os ecos da minha passagem pela sessão pública sobre as Ilhas do Porto que a Câmara Municipal do Porto organizou ontem no Teatro Campo Alegre, com iniciativa sobretudo das vereações da Habitação e do Urbanismo, a que Rui Moreira concedeu a devida importância da sua participação. Afinal, um debate que vai na linha de que sob a diversidade política e ideológica é possível concertar posições viradas para a ação não para o discurso.)

Assisti ao debate entre as forças políticas representadas na Assembleia Municipal do Porto (PAN, Bloco de Esquerda, Partido Comunista Português, PSD, Partido Socialista e Movimento que elegeu Rui Moreira) que precedeu o meu painel, moderado pelo Vereador do Urbanismo Pedro Baganha, com a Professora Fernanda Paula Oliveira como outra interveniente.

Gostei do debate político, impecavelmente dirigido pelo Presidente da Assembleia Municipal do Porto Miguel Pereira Leite. Um debate sereno, vivo, permitindo de forma expedita perceber o posicionamento das diferentes forças políticas sobre o problema em discussão. Com a exceção da representante do Partido Socialista (desconheço a sua graça) que para além de uma bajulação que não entendi ao Arquiteto Carlos Guimarães da Faculdade de Arquitetura do Porto não conseguiu fazer entender o que pensa o Partido Socialista do problema das ilhas, as intervenções dignificaram a Assembleia Municipal e quando assim é tem sentido o nosso próprio investimento numa intervenção digna.

Organizei a minha intervenção nos termos em que a anunciara aqui neste espaço de reflexão. O trabalho do CITTA e do Instituto da Construção da FEUP merece-me toda a consideração, embora não perceba por que razão o Programa Estratégico também elaborado em 2015 esteve três anos para ser divulgado. Mistérios que a razão desconhece. Por isso, parti do seu contributo, vincando que o conhecimento que está ali condensado exige aprofundamento do ponto de vista do conhecimento que só uma estratégia em ação pode proporcionar, o que me permitiu refletir sobre a problemática do conhecimento em planeamento. Teve algum impacto a minha ideia de que no quadro da diversidade política e ideológica que as forças políticas da Assembleia Municipal bem expressaram há espaço de compromisso global para um Porto decente, isto é uma cidade que consiga evitar o dualismo entre um Porto cosmopolita e em busca de investimento à escala global e um Porto insalubre, com padrões de habitação indignos, com padrões de condições de vida abaixo de um nível de decência. E o conhecimento que hoje existe sobre as ilhas permite esse compromisso. Tanto mais sólido for esse compromisso mais provável será obter o compromisso do Governo central para uma intervenção que marque a diferença.

Depois, as matérias do modelo de Cidade que a intervenção nas Ilhas e nas 14 áreas críticas definidas pelo estudo do CITTA/IC FEUP deve servir ao serviço de uma Cidade diversa, que é para mim o único conceito de Cidade que me interessa. E finalmente a discussão de um modelo de gestão e intervenção tipo CRUARB, devidamente adaptado aos tempos de hoje e à natureza da intervenção nas Ilhas. É esse o modelo que me parece mais pertinente para integrar as diferentes dimensões de política de habitação, educação, saúde e política social em geral que a intervenção exige. E também o mais pertinente para gerir a decisiva questão do relacionamento com os proprietários, residentes ou não, dos alojamentos identificados nos núcleos habitacionais registados.

É sempre um mistério saber se este tipo de intervenções cai ou não em saco roto. Mas fazem parte do contributo cívico de um homem do planeamento, cada vez mais interessado na reflexão sobre essa prática.

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