sexta-feira, 6 de julho de 2018

LEARNING BY PLAYING



(Ninguém pode ficar indiferente a um jogo como o Bélgica-Brasil de hoje, sobretudo pelo confronto entre as duas partes. Mas além do espetáculo da emoção, do erro colossal do VAR na penalidade de Company sobre Gabriel Jesus, o que fica é um manancial de reflexão sobre o futebol como jogo coletivo em que a organização conta tanto como a excelência individual.)

Reconheço que o Brasil tem uma equipa de futuro, como talvez nunca tenha tido nos últimos anos. Mas, peço desculpa aos meus amigos brasileiros, mas o futebol brasileiro conta para mim muito pouco. Não há maneira de vislumbrar alguém que pense o jogo para além de uns treinadores de fim-de-semana, que “arranham” algumas ideias, com muito marketing à mistura (caso paradigmático de Scolari) e uma eterna dependência do fatalismo e do brilhantismo individual. O futebol brasileiro é para mim a grande metáfora da nação brasileira. Muito talento individual mas pouca organização e reduzida capacidade de colocar esse talento ao serviço de um posicionamento mais coletivo. Como sabemos o desempenho de uma organização mede-se essencialmente pela sua capacidade de aprender com o seu funcionamento e respostas a pressões e desafios. O Brasil dá mostras de não aprender com os jogos que faz e quem disso não é capaz não é capaz de ler o jogo em plena prestação. Hoje, a seleção brasileira demorou uma eternidade a compreender a trama que Roberto Martinez tinha montado com o posicionamento da Bélgica no terreno, aprendendo ele próprio com o erro monumental que foi a sua postura tática face à seleção do Japão.

A Bélgica mostrou como o talento individual, na construção dos ataques rápidos e na defesa do miolo da sua defesa, com um Courtois de outro mundo, pode articular-se virtuosamente com a excelência da organização, conseguindo disfarçar alguns ativos menos qualificados que esta seleção apresenta.

E na grande metáfora que a seleção brasileira permite construir sobre a nação brasileira, espanta como o talento de Neymar é desperdiçado ao serviço de uma imagem puramente individual de “brinca na areia”, sempre com imaginação e criatividade para cavar uma falta. A criatividade e a energia com que a sociedade brasileira se esgota na procura e navegação nos meandros da corrupção estão bem representadas na arte da queda da estrela brasileira.

Que confronto teremos entre as organizações da França e da Bélgica?

A razia dos outros continentes em matéria de equipas eliminadas é também ela própria uma metáfora dos elevados défices de capacidade organizativa que campeia por aquelas paragens da África à América do Sul.

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