(Os resultados do congresso extraordinário do PP, com a vitória
de Casado, demonstram, afinal e ao contrário do que vaticinara, que o partido não
terá ajustado contas com Aznar. Rajoy, apesar dos elogios comovidos
da despedida, terá perdido, pois o vencedor da contenda julga-se próximo da
personagem a abater.)
O ambiente
emotivo da despedida de Rajoy e o teor do seu discurso final sugeriram à
generalidade dos analistas espanhóis e à minha própria apreciação que esse
ambiente em torno do líder que se vai seria suficiente para contrariar o apelo
do candidato Casado, que nunca escondeu a sua proximidade ao estilo Aznar e de
quem foi aliás chefe de gabinete.
A política
tem destes paradoxos. A despedida de Rajoy foi um prodígio de elogios e de proximidade
ao líder que parte, mas as suas mensagens foram ignoradas e Casado venceu com
alguma margem. É verdade que Rajoy não pronunciou o nome de Soraya de Saenz
Santamaría, mas as entrelinhas do seu discurso apontavam para o apoio à sua ex-vice
presidente de Governo.
As interpretações
mais benignas do acontecimento apontam para uma viragem ainda mais à direita do
PP, um modelo de governação ainda mais liberal, uma combinação de “pátria, família
e mercado”. A direita espanhola sabe as linhas com que se coze. Na minha
interpretação, vingou a reatividade face à ameaça Ciudadanos, o chamado efeito
Rivera, e a necessidade de barrar mais explicitamente o caminho à geringonça
espanhola. Feijoo terá ficado contente pelo facto da sua inimiga Soraya ter
sucumbido sem que ele se tivesse comprometido com o apoio a Casado.
No fim de contas,
nada que em meu entender permita contrariar o longo declínio do PP, o seu
afastamento da questão catalã e uma recomposição mais do que dolorosa da direita
espanhola. Rajoy estará neste momento, enquanto prepara o seu veraneio em Sanxenxo,
a pensar com os seus botões que decididamente já não entendia a Espanha e muito
menos o seu próprio partido . O que é a mesma coisa que dizer que estará
satisfeito com a decisão de abandono que tomou e que lá no fundo até agradece a Sánchez
a ousadia de o ter precipitado.
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