domingo, 22 de julho de 2018

AFINAL AZNAR NÃO TERÁ “MORRIDO”



(Os resultados do congresso extraordinário do PP, com a vitória de Casado, demonstram, afinal e ao contrário do que vaticinara, que o partido não terá ajustado contas com Aznar. Rajoy, apesar dos elogios comovidos da despedida, terá perdido, pois o vencedor da contenda julga-se próximo da personagem a abater.)

O ambiente emotivo da despedida de Rajoy e o teor do seu discurso final sugeriram à generalidade dos analistas espanhóis e à minha própria apreciação que esse ambiente em torno do líder que se vai seria suficiente para contrariar o apelo do candidato Casado, que nunca escondeu a sua proximidade ao estilo Aznar e de quem foi aliás chefe de gabinete.

A política tem destes paradoxos. A despedida de Rajoy foi um prodígio de elogios e de proximidade ao líder que parte, mas as suas mensagens foram ignoradas e Casado venceu com alguma margem. É verdade que Rajoy não pronunciou o nome de Soraya de Saenz Santamaría, mas as entrelinhas do seu discurso apontavam para o apoio à sua ex-vice presidente de Governo.

As interpretações mais benignas do acontecimento apontam para uma viragem ainda mais à direita do PP, um modelo de governação ainda mais liberal, uma combinação de “pátria, família e mercado”. A direita espanhola sabe as linhas com que se coze. Na minha interpretação, vingou a reatividade face à ameaça Ciudadanos, o chamado efeito Rivera, e a necessidade de barrar mais explicitamente o caminho à geringonça espanhola. Feijoo terá ficado contente pelo facto da sua inimiga Soraya ter sucumbido sem que ele se tivesse comprometido com o apoio a Casado.

No fim de contas, nada que em meu entender permita contrariar o longo declínio do PP, o seu afastamento da questão catalã e uma recomposição mais do que dolorosa da direita espanhola. Rajoy estará neste momento, enquanto prepara o seu veraneio em Sanxenxo, a pensar com os seus botões que decididamente já não entendia a Espanha e muito menos o seu próprio partido . O que é a mesma coisa que dizer que estará satisfeito com a decisão de abandono que tomou e que lá no fundo até agradece a Sánchez a ousadia de o ter precipitado.

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