quarta-feira, 25 de julho de 2018

OS PORTUGUESES E OS OUTROS



(A reatividade das populações nativas dos diferentes países face aos estrangeiros, particularmente aos imigrantes, tem estado sob medida o mais abrangente possível. Vários inquéritos têm procurado responder a essa preocupação de medida. Segundo dados publicados pelo Economist, os portugueses surgem bem colocados em matéria de resposta positiva à imigração. O estudo realizado permite avançar uma resposta, pelo menos exploratória, para as diferenças observadas entre os países.)

Como temos vindo a referir, o post de ontem integrou essa matéria, uma das dimensões mais gravosas e abjetas do populismo é a exploração do medo face à ameaça de população estrangeira, imigrantes e refugiados em particular. É uma matéria altamente combustível. Além disso, é propícia a que a exploração das perceções individuais não corresponda ao sentir global de uma população, medida, imperfeitamente claro está, por diferentes instrumentos de inquirição. Por isso, todo o esforço de rigor e de abrangência comparativa entre países é bem recebido.

O Economist (link aqui) traz ao debate político informação preciosa. A variável medida é a reação positiva das populações de diferentes países face ao fenómeno imigratório. Assegurada por via de inquirição essa medida, o grau de reação positiva da população face ao fenómeno imigratório é relacionado com duas variáveis: a dinâmica de influxos de população imigrada por processos de asilo e a percentagem de população de ascendência não ocidental residente nesses países (um indicador indireto da diversidade de cada país).

O gráfico que abre este post compara as duas correlações. É possível observar que a variação da reação positiva da população face aos migrantes não europeus tem uma baixa correlação com a variação do número de pedidos de asilo político. Já o mesmo não acontece com a influência exercida pelo indicador de diversidade. Neste último caso, quanto mais diversa for a população mais significativa é a reação positiva face aos migrantes não europeus. Com as precauções que é sempre necessário assegurar nestas matérias, o Economist destaca que 22% da reação positiva observada é, em média, explicada pela diversidade racial das populações.

Do ponto de vista global, os números mostram que a reação das populações europeias, embora heterogénea, tem dado sinais de melhoria. Essa evidência contraria o discurso populista ou pelo menos não há um “matching” claro entre a exploração populista do tema e o que é percebido pelos barómetros de opinião.

No plano mais individualizado dos países, Portugal aparece bem situado no plano da reação positiva face à imigração (ver gráfico acima), evidenciando um grau de positividade superior ao que seria explicável pela diversidade étnica da população. Portugal é mesmo o terceiro país em termos de reação positiva. É um sinal positivo de que a solidariedade tem mantido níveis muito satisfatórios. Ontem, a estupidez dos jornalistas da SIC Notícias que entrevistavam o Secretário de Estado Artur Neves, perseguindo uma ideia de quantificação de custos e riscos da solidariedade para com os incêndios gregos, faz parte de uma procura de sangue que infelizmente se tem enraizado num jornalismo medíocre, refém de audiências. Não é paradigmática do sentimento dominante em Portugal, que considera cristalino pedir ajuda quando dela se tem necessidade e ajudar os outros quando eles precisam. Os números do Economist estão também em linha com a dinamização a nível local de experiências de integração de refugiados em Portugal, operada no âmbito da aplicação do Fundo para o Asilo e Migrações Internacionais (FAMI), gerido pela Secretaria Geral do Ministério da Administração Interna.

Estou em crer que excessos policiais em relação a população negra mais problemática e ainda o recente caso do segurança do Metro do Porto que agrediu a imigrante colombiana são mais situações pontuais do que representativas da intolerância global da sociedade portuguesa. Isso não significa ignorar que tais casos merecem ser monitorizados com atenção.

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