(A reatividade das populações nativas dos diferentes países
face aos estrangeiros, particularmente aos imigrantes, tem estado sob medida o
mais abrangente possível. Vários inquéritos têm procurado responder a essa
preocupação de medida. Segundo dados publicados pelo Economist, os
portugueses surgem bem colocados em matéria de resposta positiva à imigração. O
estudo realizado permite avançar uma resposta, pelo menos exploratória, para as
diferenças observadas entre os países.)
Como temos
vindo a referir, o post de ontem integrou
essa matéria, uma das dimensões mais gravosas e abjetas do populismo é a exploração
do medo face à ameaça de população estrangeira, imigrantes e refugiados em
particular. É uma matéria altamente combustível. Além disso, é propícia a que a
exploração das perceções individuais não corresponda ao sentir global de uma
população, medida, imperfeitamente claro está, por diferentes instrumentos de inquirição.
Por isso, todo o esforço de rigor e de abrangência comparativa entre países é
bem recebido.
O Economist (link aqui) traz
ao debate político informação preciosa. A variável medida é a reação positiva das
populações de diferentes países face ao fenómeno imigratório. Assegurada por
via de inquirição essa medida, o grau de reação positiva da população face ao
fenómeno imigratório é relacionado com duas variáveis: a dinâmica de influxos
de população imigrada por processos de asilo e a percentagem de população de
ascendência não ocidental residente nesses países (um indicador indireto da
diversidade de cada país).
O gráfico
que abre este post compara as duas correlações. É possível observar que a
variação da reação positiva da população face aos migrantes não europeus tem
uma baixa correlação com a variação do número de pedidos de asilo político. Já o
mesmo não acontece com a influência exercida pelo indicador de diversidade. Neste
último caso, quanto mais diversa for a população mais significativa é a reação
positiva face aos migrantes não europeus. Com as precauções que é sempre necessário
assegurar nestas matérias, o Economist destaca que 22% da reação positiva observada
é, em média, explicada pela diversidade racial das populações.
Do ponto de
vista global, os números mostram que a reação das populações europeias, embora
heterogénea, tem dado sinais de melhoria. Essa evidência contraria o discurso
populista ou pelo menos não há um “matching”
claro entre a exploração populista do tema e o que é percebido pelos barómetros
de opinião.
No plano mais
individualizado dos países, Portugal aparece bem situado no plano da reação
positiva face à imigração (ver gráfico acima), evidenciando um grau de positividade
superior ao que seria explicável pela diversidade étnica da população. Portugal
é mesmo o terceiro país em termos de reação positiva. É um sinal positivo de
que a solidariedade tem mantido níveis muito satisfatórios. Ontem, a estupidez
dos jornalistas da SIC Notícias que entrevistavam o Secretário de Estado Artur
Neves, perseguindo uma ideia de quantificação de custos e riscos da
solidariedade para com os incêndios gregos, faz parte de uma procura de sangue
que infelizmente se tem enraizado num jornalismo medíocre, refém de audiências.
Não é paradigmática do sentimento dominante em Portugal, que considera cristalino
pedir ajuda quando dela se tem necessidade e ajudar os outros quando eles
precisam. Os números do Economist estão
também em linha com a dinamização a nível local de experiências de integração
de refugiados em Portugal, operada no âmbito da aplicação do Fundo para o Asilo
e Migrações Internacionais (FAMI), gerido pela Secretaria Geral do Ministério da
Administração Interna.
Estou em
crer que excessos policiais em relação a população negra mais problemática e ainda
o recente caso do segurança do Metro do Porto que agrediu a imigrante
colombiana são mais situações pontuais do que representativas da intolerância
global da sociedade portuguesa. Isso não significa ignorar que tais casos merecem
ser monitorizados com atenção.
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