(Dois vultos, próximos dos meus focos de admiração. Uma que
nos deixa, fisicamente, quando do alto da sua beleza e sobriedade já nos tinha
deixado, por força de doença degenerativa. Um que se afirma ainda na decisão de
partilhar connosco a sua documentação para a história contemporânea. Laura
Soveral e Felipe González, simplesmente.)
Desculpem lá
qualquer coisinha. Mas o cinema é para mim feito de rostos de mulheres marcantes,
quase sempre de grande beleza e sobriedade, mulheres de uma força interior inesgotável,
mães-coragem, amantes irredutíveis e misteriosas, guerreiras das coisas mais
prosaicas. Poderia encher um post com
esses rostos que fazem parte da minha vida de cinéfilo envergonhado. Alguns embelezaram
as portas de gabinetes por onde passei (recordo-me de Jane Fonda na Faculdade)
e a Deneuve ainda me acompanha no local de trabalho, olhando serenamente sobre os
meus ombros. Por hoje, gostaria de me deter em Laura Soveral, que nos deixou
depois de uma longa vida de reclusão na Casa do Artista em Lisboa, por efeito
de doença degenerativa. Tenho a sensação que o cinema português a desperdiçou, mas
a Madalena do Estrada da Vida (1968)
de Henrique Campos, a fabulosa Maria dos Prazeres de Uma Abelha na Chuva (1972) de Fernando Lopes e mais recentemente a Aurora
do Tabu (2012) de Miguel Gomes bastam
para o seu rosto, principalmente a Maria dos Prazeres, fique para sempre na
nossa memória.
Felipe González
não nos deixou e está mais atento do que nunca. Sou dos que penso que o PSOE
nunca mais foi o mesmo depois da saída e queda de Felipe. Ele representa a
imagem do advento da modernidade em política e oxalá Pedro Sánchez o tenha por
referencial, embora reconhecendo as diferenças. Pois González, numa guerra sem
quartel com a política feita por tweets, acaba de colocar à disposição de todos
a partir da sua Fundação o seu arquivo pessoal de cadernos, documentação e
outras reflexões (Memória Cívica).
Dois vultos,
à sua maneira. De Laura ficam os filmes, as imagens e aquela Voz inconfundível.
De Felipe, o seu arquivo é um princípio de um outro relacionamento, aberto, crucial
para compreendermos o tempo que as nossas convicções políticas se foram consolidando.
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