(Breves notas sobre a última publicação de Vasco Pulido
Valente, não propriamente uma nova obra (de raiz), mas mesmo assim matéria relevante
para combater a nossa ignorância nacional sobre um período tão tumultuoso. Por
estranho que pareça uma boa leitura de férias.)
Não duvido
que Vasco Pulido Valente (VPV) poderia ter sido um grande historiador, talvez o
maior dos conhecidos até agora, do Portugal Contemporâneo. Várias razões
convergem para explicar que o não tenha sido até ao momento, apesar do ego do
autor poder dizer o contrário.
Tudo isto
vem a propósito do que VPV considera ser “dois fragmentos de uma hipotética história
do Portugal moderno, anteriormente apresentados num seminário do ICS de 1989-1990.
Graças à intervenção do também historiador Rui Ramos que preservara o manuscrito
de tais “fragmentos” e que VPV perdera na desorganização da vida, “O FUNDO DA
GAVETA - Contra-Revolução e Radicalismo no Portugal Moderno” é a publicação
desses fragmentos com uma revisão mínima, pelo que se entende do prefácio
assinado pelo autor.
Os períodos
em causa são os 1823-24 e de 1864-70 e VPV regressa ao que verdadeiramente sabe
e penso que ficou irremediavelmente preso dessa tentação de tudo querer explicar
a partir do século XIX português. VPV tem razão quando refere a injustiça de se
afirmar que Portugal nada sabe deste período, simplesmente porque ninguém o
explicou com rigor e decência. Pela narrativa que o autor constrói sobretudo do
período de 1823-24, percebe-se o que poderia ter sido uma história aprofundada
desses eventos como a “Vilafrancada”, a ingénua ideia da recuperação do Brasil já
a revolta de D. Pedro tava em marcha e a “Abrilada”. De facto, a história que tivemos
no liceu apagou praticamente a projeção do conflito entre o realismo
absolutista (de D. Miguel e apaniguados) e o jacobinismo radical, bem pouco
radical face às suas manifestações em França e em Espanha. A narrativa de VPV é
simultaneamente discursiva e visando uma explicação global dos acontecimentos,
mas o estilo é sugestivo e a leitura não é fácil, não por causa do estilo do
autor, mas porque de facto nos falta informação prévia sobre aqueles eventos
sobre os quais VPV constrói a narrativa global.
Oportunidade
também para se “conviver” com nomes que passaram demasiado depressa pela nossa formação
histórica, como Palmela, Rio Maior, Loulé, Subserra e muitos outros.
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