(O programa do encontro anual da American Economics Association
de janeiro de 2018 tem cerca de 500 páginas o que dá uma ideia da dimensão do
evento. Pois este ano, entre tanta matéria lá apresentada e discutida, esteve
na berlinda a dimensão dos artigos publicados nas revistas da especialidade mais
prestigiadas. O economista David Autor, várias vezes convocado para
este blogue, animou as hostes reclamando artigos mais pequenos.)
As simples
operações de “onde se publica” e “como se publica” transformaram-se em poderosos
instrumentos de hierarquização dos economistas candidatos a uma carreira académica.
Não vou hoje dissertar sobre os mecanismos ocultos de reprodução do poder na
produção de conhecimento. É conhecido o predomínio da academia americana nesse
processo. A generalidade dos doutoramentos dos que estão na calha para o estrelato
é realizada na mira de dois ou três papers que façam a diferença e interessem
as revistas de ranking mais prestigiado. Essa publicação vai ser o cartão de
visita para a caça de talentos que as universidades americanas de ponto realizam
em torno desse material.
Mas seria profundamente
ingénuo da nossa parte, mesmo dos que estão afastados desse nível, pelo efeito-país
e pelo efeito da qualidade intrínseca, admitir que todo esse processo é “costless”, ou seja desprovido de custos.
Antes pelo contrário, todo esse processo envolve elevados custos de alocação de
tempo, não só dos que elaboram o produto em causa, mas também o universo de “referees” que analisam e decidem da
publicação ou recusa e dos termos em que pode ser publicado.
Ora o que David Autor trouxe
para o debate na Conferência da AEA foi a tendência para esses papers
aumentarem de dimensão de número de páginas, excluindo apêndices em que hoje é fundamental
colocar a base de dados e tratamentos que suporta o artigo disponível para uma
possível réplica de resultados por parte de outros investigadores.
O gráfico que abre este
post foi colocado num artigo do Wall Street Journal (de autoria de Ben Leubsdorf)
(link aqui) que acusou a relevância da discussão travada em Filadélfia e mostra de facto a
tendência para o aumento do número médio de páginas dos papers económicos
registados em cinco revistas de grande prestígio de ascendência americana e
onde o mainstream da economia publica, quando pode, entenda-se (não é qualquer
bicho careta que lá chega).
O argumento implícito
neste debate é que a história do pensamento económico nos dá conta de artigos
seminais que pouco mais de 10 páginas tinham, o que a mostra que é possível
dizer coisas importantes e fundamentadas em poucas páginas. Compreendo o argumento
mas também sou sensível ao reconhecimento de que a modelização em economia
atingiu uma complexidade tal e os caminhos estreitos para a publicação podem
implicar mais páginas para ser convincentes e passar as barreiras dos referees.
Além disso, ao que hoje se escreve e publica, acreditar que há artigos seminais
em excesso é tão ingénuo como imaginar que os economistas académicos
portugueses têm as mesmas condições de acesso a essa publicação.
Mas o que mais me
desagrada no argumento é o argumento da eficiência, ou seja a redução do custo-tempo
necessário para alimentar a cadeia de montagem da investigação económica publicada.
Faz-me lembrar a emergência na academia dos exames de escolha múltipla apenas
com o argumento de reduzir o tempo da avaliação para os professores.
O artigo do Wall Street
Journal refere a próxima publicação de uma nova revista cujo programa editorial
limita a 6000 palavras os artigos a publicar.
O post já vai em 576 palavras.
Respeitemos a onda.
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