terça-feira, 10 de julho de 2018

VERÃO

(Projeto de Miguel Ventura Terra. ilustre nativo de Seixas -Caminha)


(Reflexão estival em torno de mais um curto período de curta pausa na rotina do trabalho. Impossível encontrar um tema dominante. Uma mescla indisciplinada de tudo e mais qualquer coisa.)

Já há muito tempo que as férias deixaram de ser o que eram. O trabalho, a logística necessária para tratar de ascendentes, os tempos de utilização da casa de Seixas pois os filhos têm direito à sua autonomia, enfim toda uma série de fatores típicos da minha geração tendem a substituir-se àquela autonomia de que já gozámos, “em que período me apetece fazer férias”. Pois isso tudo já era, faz parte da nossa evolução pelos tempos das nossas dificuldades e problemas.

Em Seixas, Caminha por alguns dias, para gozar o prazer de terra tão aprazível. Diz-me o Caminhense que “Seixas, Paris e Londres” era uma máxima, primeiro, introduzida pelo Arquiteto Ventura da Terra, um ilustre nativo desta freguesia, cuja habitação espera a desejada recuperação, que em algum tempo no passado desenhou no globo dois pontos, sendo um deles o da sua proveniência. Diz-me ainda o Caminhense que o saudoso António Pedro, nas suas alocuções na BBC, começava também por se referir a “Seixas, Paris e Londres” como uma senha dos seus aparecimentos radiofónicos, logo reconhecida pelo então locutor da BBC o também saudoso Fernando Peça.

Pois continuamos a debater-nos com a rotina da escolha entre o sol mais aprazível da pracinha e a aventura de poucos quilómetros de ida à praia de Moledo, às voltas com o nevoeiro. Dizia-me o meu saudoso amigo Arquiteto Duarte Castel-Branco que nas suas peregrinações pelo verão de S. Martinho do Porto se deparava com o mesmo problema, mas que isso aguçava a criatividade, onde ir para contornar o nevoeiro enquanto não levantasse. Creio que já não estou nessa onda de criatividade. Aceitamos simplesmente a regra e lá vamos nos adaptando, confortados pela escapatória de que o corpo pede cada vez menos praia e cada vez mais esplanada.

Tempo por isso para organizar a biblioteca que vai crescendo na casa de Seixas, no drama que é estar separado dos livros de que se gosta, agora repartidos pela casa de Vila Nova de Gaia, pelo escritório em Matosinhos e pela casa de Seixas.

E tempo para deambular pela imprensa que pode ser lida, com relevo para o impasse de incompetência em que o BREXIT está mergulhado. É confrangedor ver o governo de Theresa May a decompor-se, mostrando cada vez mais com singela clareza que o BREXIT foi decidido sem qualquer preparação coerente e profissional. É disto que o populismo mais abjeto de compõe e ajuda-nos a refletir como é possível convencer milhões de pessoas de alguma coisa que não tem o mínimo conserto e que é uma mentira objetiva. Toda a elite económica foi desvalorizada, todos os seus argumentos válidos e pertinentes foram silenciados, mostrando como o populismo se alimenta do não conhecimento, da sua distorção sistemática, da sua vulgarização.

A tragédia dos miúdos tailandeses estará prestes a ser resolvida com profissionalismo e planeamento rigoroso e pergunto-me se tudo isto se passasse com miúdos de outros continentes se teríamos o mesmo êxito. É espantoso o poder de concentração destes jovens, não sendo por acaso que nos indicadores de literacia de Pisa os asiáticos comecem a destacar-se. Sobretudo, porque como dizia um especialista, Gregorio Luri, no El País de há dias (https://aprendemosjuntos.elpais.com/especial/la-atencion-es-el-nuevo-cociente-intelectual-gregorio-luri/), a atenção é o novo quociente de inteligência: “Seremos avaliados pelos nossos filhos pela capacidade que revelarmos de educar a sua atenção”.

Sem comentários:

Enviar um comentário