(Projeto de Miguel Ventura Terra. ilustre nativo de Seixas -Caminha)
(Reflexão estival em torno de mais um curto período de
curta pausa na rotina do trabalho. Impossível encontrar um tema
dominante. Uma mescla indisciplinada de tudo e mais qualquer coisa.)
Já há muito
tempo que as férias deixaram de ser o que eram. O trabalho, a logística necessária
para tratar de ascendentes, os tempos de utilização da casa de Seixas pois os
filhos têm direito à sua autonomia, enfim toda uma série de fatores típicos da
minha geração tendem a substituir-se àquela autonomia de que já gozámos, “em
que período me apetece fazer férias”. Pois isso tudo já era, faz parte da nossa
evolução pelos tempos das nossas dificuldades e problemas.
Em Seixas,
Caminha por alguns dias, para gozar o prazer de terra tão aprazível. Diz-me o
Caminhense que “Seixas, Paris e Londres” era uma máxima, primeiro, introduzida pelo
Arquiteto Ventura da Terra, um ilustre nativo desta freguesia, cuja habitação
espera a desejada recuperação, que em algum tempo no passado desenhou no globo
dois pontos, sendo um deles o da sua proveniência. Diz-me ainda o Caminhense
que o saudoso António Pedro, nas suas alocuções na BBC, começava também por se
referir a “Seixas, Paris e Londres” como uma senha dos seus aparecimentos
radiofónicos, logo reconhecida pelo então locutor da BBC o também saudoso
Fernando Peça.
Pois continuamos
a debater-nos com a rotina da escolha entre o sol mais aprazível da pracinha e a
aventura de poucos quilómetros de ida à praia de Moledo, às voltas com o nevoeiro.
Dizia-me o meu saudoso amigo Arquiteto Duarte Castel-Branco que nas suas
peregrinações pelo verão de S. Martinho do Porto se deparava com o mesmo
problema, mas que isso aguçava a criatividade, onde ir para contornar o
nevoeiro enquanto não levantasse. Creio que já não estou nessa onda de
criatividade. Aceitamos simplesmente a regra e lá vamos nos adaptando,
confortados pela escapatória de que o corpo pede cada vez menos praia e cada
vez mais esplanada.
Tempo por
isso para organizar a biblioteca que vai crescendo na casa de Seixas, no drama
que é estar separado dos livros de que se gosta, agora repartidos pela casa de Vila
Nova de Gaia, pelo escritório em Matosinhos e pela casa de Seixas.
E tempo para
deambular pela imprensa que pode ser lida, com relevo para o impasse de incompetência
em que o BREXIT está mergulhado. É confrangedor ver o governo de Theresa May a
decompor-se, mostrando cada vez mais com singela clareza que o BREXIT foi
decidido sem qualquer preparação coerente e profissional. É disto que o
populismo mais abjeto de compõe e ajuda-nos a refletir como é possível convencer
milhões de pessoas de alguma coisa que não tem o mínimo conserto e que é uma
mentira objetiva. Toda a elite económica foi desvalorizada, todos os seus
argumentos válidos e pertinentes foram silenciados, mostrando como o populismo
se alimenta do não conhecimento, da sua distorção sistemática, da sua
vulgarização.
A tragédia dos
miúdos tailandeses estará prestes a ser resolvida com profissionalismo e
planeamento rigoroso e pergunto-me se tudo isto se passasse com miúdos de
outros continentes se teríamos o mesmo êxito. É espantoso o poder de concentração
destes jovens, não sendo por acaso que nos indicadores de literacia de Pisa os
asiáticos comecem a destacar-se. Sobretudo, porque como dizia um especialista,
Gregorio Luri, no El País de há dias (https://aprendemosjuntos.elpais.com/especial/la-atencion-es-el-nuevo-cociente-intelectual-gregorio-luri/), a atenção é o novo quociente de
inteligência: “Seremos avaliados pelos nossos filhos pela capacidade que
revelarmos de educar a sua atenção”.
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